segunda-feira, 30 de abril de 2012

Acerca de duas frases de Rimbaud, a subjetividade do Inferno e Pagãos



"o inferno não pode investir contra os pagãos"


É isso! Esse é um trecho de Noite no Inferno (no livro Temporada no Inferno), do Rimbaud, traduzido pelo Lêdo Ivo. Vou comentar sobre ele, mas antes, preciso apresentar outro trecho do mesmo texto.

"acredito estar no inferno, então estou nele"


Bom... Como começar? Rimbaud pode não ter dito absolutamente nada que tenha a ver com a minha leitura... Mas foi assim que eu li, então... viva a livre-interpretação, certo?  Dito isso, posso propôr uma ideia da relativização do inferno. Pra começar porque o "Estou no inferno, porque acredito estar nele", isso mostra como é totalmente subjetivo e pessoal, o nosso próprio inferno pessoal. O que é o sofrimento? Como se traduz a dor? São questões que apenas o ego pode responder. O inferno é, portanto, a materialização ou, melhor dizendo, a concretização (porque muitas vezes não é algo material) dos nossos terrores, medos e receios pessoais. Acredito estar no inferno, acredito sofrer, acredito estar sofrendo, então sofro, então estou no inferno. É simples, a mente é a central de comando das emoções, essa apenas obedece aos impulsos, a fé ou a crença é o poder de mexer emoções. Vemos, portanto, que o que Rimbaud disse sobre "o inferno não pode investir contra os pagãos" se trata de uma metáfora, o "pagão" não pode ser suscetível ao impacto do inferno justamente porque este não crê nele. Deus e o Demônio só têm ao alcance deles aqueles que neles creem. Este é o incrível poder da fé, o poder de concretizar o inferno, fato é que, na realidade, se trata do poder da mente humana, da abstração e da capacidade subjetiva e criativa da mesma. Vejo o inferno porque acredito nele porque tenho capacidade abstrativa de formar um conceito de inferno. Desta forma, a fé funciona como catalisadora da criatividade. Se emoções são subjetivas, moldá-las não é tão difícil, é tampouco tão fácil. Vi monstros no meu quarto quando criança, podes me provar, cético leitor, que estava louco? Não é difícil porque conseguimos abstrair com certa facilidade. Não é fácil porque somos extremamente influenciados pelo meio em que vivemos... nossas abstrações, crenças e, porque não, infernos, são muitas vezes produtos de um consciente coletivo. Bom... voltando ao pagão... o pagão real não existe. Este teria que ser o mais objetivo dos seres, sem a capacidade da abstração ou do sentir medo/dor/sofrimento/ter anseios/etc... Existe sim tantos infernos para tantos muitos pagãos destes, pois sejam os infernos pessoais ou coletivos, são muito raramente (senão, nunca) universais. 

Esqueci alguma coisa? Depois volto...


Eu reli... tá confuso e mal escrito ): mas acho que dá pra entender a ideia... ?

Um comentário:

  1. Eu acredito, concordo e assino embaixo no que você e no que Rimbaud escreveram. Se a gente citar Hobbes e o seu "O homem é o lobo do homem" no contexto de homem singular, não conjunto, pode se encaixar aí. Sempre achei a ideia de ter um inimigo muito caricata, muito novelesca, mas não posso deixar de lado a ideia de ter como maior inimigo a nossa própria pessoa. Não que o inferno seja criado sem querer (e não que não possa ser), temos predisposição para tal. Arquitetamos nosso inferno detalhe por detalhe por nos conhecermos muito bem (alguns), e aí está a chave. Esse alguns que escrevi e que você deixou explicito no texto. É tudo relativo para todos os seres, o inferno não deixaria de ser, assim como o céu, a felicidade, o amor, os problemas, e é isso que enriquece, a pluralidade de uma ideia que, ao menos no Aurélio, tem descrição única, mas produz ramos intrínsecos, moldados a partir de vivências?, no ser humano. Não sei se comentei o texto ou se viajei na maionese, mas tudo bem, me segue que no caminho eu te explico.

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