sexta-feira, 19 de outubro de 2012

JAZZ AQUI O CONCEITO





Fernandes

Fernandes riu suave... um sorriso melancólico completava aquela risada nostálgica. Enquanto segurava o livro, enquanto lia a dedicatória, enquanto o turbilhão de memórias lhe agitava a velha mente cansada... Éramos tão jovens... Achávamos que duraria para sempre... "a melhor coisa que já me aconteceu" não era mentira, naquela época não era... Como amava ela... e como ela o amava... E como tinham em comum... e o quanto viveram... e o quanto poderiam ter vivido... Vez em quando se perguntava se as coisas poderiam ter sido diferentes, e como seriam se tivessem sido... Teriam se casado? Nos amávamos tanto... O que aconteceu? Tido filhos? Adorávamos discutir o futuro... Criado uma vida juntos...? Nunca pensamos que fosse acabar, nunca, nunca... Mas acabou. Acabou... Não se sabe bem como ou porquê... simplesmente acabou. Bom... Fernandes deixou de lado o livro com a dedicatória... olhou para a esposa, sentada no sofá, vendo a novela. Amava-a, apesar de tudo... Olhou novamente o livro e riu, suave.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

divagações...

A gota que me cai na face arde... arde como o ar que me entra nos pulmões... Talvez seja o gelado da solidão desses meses... Não me suporto mais...

Se em cada segundo me passam vidas... em cada minuto, gerações... Se Deus me fez vivo pro infinito... só lhe peço, inferno cativo, que não me cumpras em eternidade...

A prisão nunca é perpétua, há sempre a morte-redenção. Pois se além da vida há a eternidade, que faço? Morro mil vezes até que se acabe... a transcendência do infinito é o fim.

E é nele que descanso.

Pois se sou só, não sou diferente de ninguém. A solidão não é em não estar com outros, mas em necessitar deles. Tão coletivamente isolados... Tão divinamente desgraçados...

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Uma coisa interessante da dor;

Algo tão pessoal... tão absolutamente individual... mas que une toda a humanidade ao redor de uma mesma fogueira que possa acolhê-los...
Como a dor e o sofrimento, tão diferentes quanto há pessoas, podem ser tão absolutamente compreensíveis a todos?

Será a empatia?

Companheiros de Abismo e divagações

I


E do homem que morre e deixa a si... da mulher que faz sexo porque precisa (porque precisa...!)... do homem que chora o próprio lamento... da mulher que seduz a própria desgraça... do homem que corrói o próprio couro, com pregos de metal... da mulher que se esconde atrás de si mesma, alma tímida em escudo de carne... do homem que morre... da mulher que deixa de viver... de duas almas desgraçadas... de dois destinos destroçados... do céu estrelado... da lua amarela... da luz que os ilumina... da inevitabilidade de um abismo... um mesmo abismo... do assobio do vento... dos cabelos esvoaçantes... da ardência dos olhos... do duro... do sangue... do olhar... o mesmo olhar... do amparo cego... do mesmo olhar... do arrefecimento...


II


Se é no abismo que nos encontramos com nossa solidariedade, se é no abismo onde conseguimos, após tanto tempo na escuridão, apreciar com tanto furor o feixe de luz, o verde, vermelho, azul, após anos de cinza... Se é no abismo que, sozinhos, aprendemos a ser humanos...

É realmente?

Ser humano é ser sujeito antes de ser pessoa? É ser eu antes de ser nós? É sofrer antes de gozar? É não ter antes de ganhar?

É morrer antes de viver?


Ser... ou não ser... se esta dúvida é, para mim que nunca terminou Hamlet, quanto à própria finitude da vida, seria ela uma constatação ou um dilema? Sou ou não sou? ou Serei ou não serei? É uma dúvida perante a vida em si ou perante a morte? É a hesitação da própria existência ou a vontade do suicídio? Preciso ler Shakespeare...


III


Me pertence minha vida, afinal? Quem ou quê deu-me-a? Certamente não veio por espontânea vontade... devo crer que minha complexa existência se resume a um conjunto de reações químicas? De sistemas de causa e efeito biológicos? E qual seria o problema? Não creio que isto tiraria a beleza da vida em si... Tiraria? Se a vida é minha, o que é o Universo? O livre-arbítrio não existe, estamos sob suas leis... Não serei nunca mais poderoso que a gravidade, mais poderoso que o átomo ou que eu mesmo... Vivemos sob constante contradição. Se não somos parte do Universo, somos parte do quê? Se não somos Natureza, quê somos?! Haveria uma esfera de poder e possibilidades afora da Natureza que nos comportaria? Não, claro que não, ainda estamos sujeitos a todas as regras que definem o que achamos que nos é externo. Somos, então, externos a nós mesmos? Ou seríamos nós internos ao que nos é externo, ou seja, parte de um todo que não consideramos por sermos arrogantes e prepotentes demais? Aposto todas as minhas fichas nesta última. All-in! Mas ainda não compreendo. O que nos diferencia - certamente existe algo - do "resto"? Cultura, isto é! Não temos onças pintadas se comportando de maneiras diferentes, temos? Onças pintadas serão onças pintadas em qualquer lugar do mundo. Seres humanos, no entanto, diferem tanto quanto há possibilidades. Diversidade cultural. Se, naturalmente, somos homogêneos, entre nós somos completamente distintos... Estas distinções serão obra de um conjunto de relações químicas? Duvido... Teríamos que admitir que tal etnia seria quimicamente diferente de outra para tal... Sabemos que não é verdade. Seriam as condições geográficas? Talvez, mas não é difícil haver duas etnias completamente diferentes no mesmo lugar geográfico, enquanto uma outra mais longe pode ser mais parecida com uma das duas antes mencionadas. O que então? O que controla o mecanismo de reconhecimento de padrões que temos em nosso cérebro? O que cria deuses, mitos, ritos, ferramentas, comidas, elaborações? Será realmente apenas o cérebro? Mas o que o garante a individualidade? O que confere a cada ser uma personalidade? Serão apenas os genes? São perguntas que, até agora, as respostas dadas não me satisfizeram... Bom... Se alguém souber, pode me dizer...











sábado, 13 de outubro de 2012

Do voto facultativo num processo democrático

Cansado de ouvir - principalmente nessa época - de voto facultativo, deixo aqui meu protesto - que pode muito bem ser contestado, não se acanhe, invisível leitor.


Vivo repetindo que o voto facultativo é uma ferramenta elitista e oligárquica para a manutenção do status quo. Sim, sempre as mesmas palavras. Pois bem, aos que não me compreendem ou aos que não concordam ou aos que não tem nada a fazer - convenhamos, porque outro motivo alguém estaria lendo isso? - deixo aqui explicado meu ponto de vista.

Primeiro ponto: Democracia. Que ser democracia? O primeiro vai gritar "LIBERDADE!". O segundo "UMA MÁQUINA BURGUESA DE MANUTENÇÃO DO PODER". O terceiro "iu esse ei! iu esse ei!". Bom... darei primeiramente meu parecer, se não concorda, foda-se ponha sua opinião nos comentários. Democracia é, antes de mais nada, uma palavra. Palavras tem origem, o que os linguistas chamam de etimologia. Sendo assim, a origem, a etimologia da palavra democracia vem do grego "demos" que quer dizer "povo", ou algo parecido, e "kratos", que é poder. Aula de história do ensino médio a parte, vamos ao que interessa. Poder do povo. Esse conceito, oboviamente, surgiu na Grécia, mais precisamente na cidade-estado de Atenas, bem antes de Rousseau ou outros "iluminados". Claro que a democracia clássica grega era bem diferente do que temos agora, mas a essência - o poder do povo - continua. No entanto, o quanto esse povo realmente tem poder? Acho que é em cima deste questionamento que vieram as críticas à democracia por parte de (até hoje) conhecidos filósofos (Platão, Aristóteles e quem mais). Se a democracia é comandada pelo povo, enxergava-se o controle desse povo. A cidade, então, estaria "sujeita à ação de demagogos e oportunistas". Lindo. Apesar dessa crítica ainda ser válida, em certos aspectos, hoje em dia criticar a democracia é mais que tabu, é pecado capital com pena de linchamento até a morte. Mas então eu faço o seguinte questionamento.

Se o povo tem poder e este mesmo povo é controlado, então o poder é apenas virtual. Consequentemente, quem tem poder não é o povo, mas estes que o controlam. Podemos chamar este modelo, então, de "democracia", mantendo-se fiel às raízes etimológicas da palavra? Creio que não, para mim, isto se traduziria muito bem como uma oligarquia, onde poucos retém o poder e o povo é apenas massa de manobra política, para lá ou para cá. Massa de manobra. Massa. Me desagrada imensamente usar esta palavra, já que eu mesmo não sei se acredito na procedência deste conceito. Mas enfim... deixemos isto de lado por hora e vamos prosseguir.

O que é, então, democracia? Ao meu ver, existem alguns pontos fundamentais na formação do conceito de democracia.

1. Para começar, democracia, como já vimos, é o poder do povo. Não vou entrar em maiores redundâncias.

2. Em segundo lugar, é um Estado de direito, certo, mas também um Estado de deveres. Se o povo tem o poder, ele tem o direito e o dever de exercê-lo. Neste contexto, o voto obrigatório é não uma opção, mas uma obrigação - evidentemente - para o cumprimento do processo democrático.

3. Se o povo tem o poder, sua ausência destrói o processo democrático. Tem que haver PARTICIPAÇÃO POLÍTICA POPULAR, coisa que nos falta nos dias de hoje. Este terceiro ponto é importantíssimo, é ele que vai definir o que é, para mim, de fato um Estado democrático.


Então, se parto desses três princípios, vejo que, realmente, não vivemos em uma democracia. Não sei sequer se é a vontade do povo viver em uma democracia. Ao contrário, somos praticamente uma monarquia constitucional com alta rotatividade. O povo não tem o poder, se há legitimidade nas eleições, não há representatividade que substitua o povo em si, sua participação efetiva política. Enfim, boto meus sonhos esquizofrênicos de lado e vamos à realidade das coisas como elas são. O povo não vai participar da política nem tão cedo. Não vou me aprofundar nisso, o leitor sabe muito bem que a maior parte da população já faz milagre ao conseguir respirar entre trabalho, trânsito e família. Não vai participar, assim, como deveria, principalmente por falta de tempo. Tenho minhas dúvidas quanto ao mito da falta de interesse do povo por política.

Mas então, sendo realista, vimos nesta, como em muitas outras eleições, a compra de votos. Nesta eles inovaram, colocando uma microcâmera em um chaveiro para provar que votou no candidato X. Gostaria de saber, primeiramente, o que faz os defensores do voto facultativo pensarem que a compra de votos pararia. É muito fácil, com a máquina que existe hoje, deixar o povo de fora da política, comprar os votos necessários para se ganhar uma eleição. Mas tudo bem, vamos supôr que isto não ocorra, vamos supor que, conforme o delírio popular (não se ofenda, inexistente leitor, tenho meus delírios também), apenas os interessados em política - os que realmente se preocupam - votariam. Vamos supôr ainda, avançando mais na esquizofrenia aguda, que todos eles pensem no bem comum. Pergunto: isto não caracteriza uma oligarquia? Se apenas a Zona Sul do Rio votasse, Freixo iria para o segundo turno? Muito provavelmente. No entanto, esta seria uma decisão válida? Seria uma decisão legítima dentro de uma democracia? Ah... por mais que tentemos, por mais que insistamos, sempre aparecerá aquele caráter elitista em nossas palavras. Vale o elitismo por um "bem comum"? Em todo caso, sabemos que, esquizofrenias a parte, as pessoas não votam no bem comum e, caso realmente não houvesse votos comprados, caso realmente o mito do desinteresse por política  por parte da massa - maldita palavra - seja real, a eleição apenas adensaria o abismo da desigualdade e, caso não, não haveria legitimidade alguma, seríamos apenas eles e nós, a massa - agora sim manipulada - e a elite - esta que comanda as direções da nação -, mesmo que seja uma "elite intelectual" e não propriamente econômica - mas afinal, não estão ligados os dois? Em qualquer um dos casos, apenas se acentuaria a ideia de cidade partida, de país partido, entre os que votam e os que não votam. Ademais, acentuo, é muito fácil manter a falta de interesse - alienação, que seja - pela política, e é justamente esta falta de interesse que destrói o processo democrático tal como minha esquizofrenia deseja que ele seja. E é justamente esta falta de interesse que é criticada e ao mesmo tempo subliminarmente elogiada pelos partidários do voto facultativo. Pois, se não houve segundo turno, é óbvio que quem votou para isso ou teve os votos comprados ou não teve interesse político.


Sobre o voto obrigatório, eu repito o que eu já disse: participação política é uma obrigação, não apenas um direito, em um regime democrático. Se não há, porque não há como, participação efetiva, que seja então, pelo menos, pelo voto.

Talvez minha mais aguda crise esquizofrênica seja em relação ao povo. Creio piamente no povo, o povo em geral, a consciência coletiva, popular, enfim... Tenho uma certa ideia que sei, é muito provavelmente errada, mas que insiste em grudar em mim: o povo, independente de qualquer coisa, não é idiota. Sabe, portanto, quando está na merda - pois vive, não é alienado à realidade, como muitos tentam colocar. Sabe quando está melhor. Claro que fiquei irritadíssimo com o resultado das eleições no Rio, mas logo fiquei mais satisfeito. Pois sei que se para mim Marcelo Freixo deveria não só ter ido pro segundo turno, mas ganhado a eleição, sei também que não sou o único ponto de vista válido. Há aqueles que votaram no Paes por medo, por propaganda ou por venderem seus votos, mas tenho certeza que muita gente - infelizmente para mim e meus companheiros de ideologia - votou porque sentiu a melhora - que, convenhamos, de fato ocorreu, até porque né... E eu não poderia nunca ir contra a vontade da maioria.

Quando fala Maquiavel sobre a instalação de novas instituições, ele diz que é o mais difícil trabalho do Príncipe, isto porquê "aquele que se dedica a tal empreendimento tem por inimigos todos quanto se beneficiavam das instituições antigas, e só acha tíbios defensores naqueles para quem seriam úteis as novas", e complementa Jean-Jacques Chevallier: "Tíbios, porque têm medo dos primeiros: tíbios porque são, como todos os homens, incrédulos e porque não puderam convencer-se, pela experiência, da excelência das coisas novas". Sendo assim, me contento, pois, resumindo, temos medo da mudança e do que é novo. E, se Freixo, sugirndo como algo absolutamente novo, conseguiu cerca de 30% dos votos, é porque sim, estamos progredindo, pelo menos na minha visão de progresso. Estamos, lentamente, abraçando aquilo que representa mudança. Este evento é progressivo e constante, a mudança de mentalidade nunca pára, está sempre assimilando tudo ao seu redor, não somos quadros eleitorais, somos seres dinâmicos e assim é nossa sociedade. Sobretudo, é um evento coletivo, algo que muito provavelmente não ocorreria da mesma forma caso o voto fosse facultativo.

Exemplificando: Nas eleições passadas para o Congresso americano, menos da metade da população conseguiu botar uma maioria republicana na Casa Branca. Como podemos chamar isso de soberania do povo?

Bom, é isso... eu não estou com saco de reler tudo, se eu tiver esquecido de algo, cometido alguma redundância ou enfim... depois eu conserto. Deixe sua opinião se quiser, se é que alguém realmente vai ler esta bosta.












Journey

Para começar, Journey é um jogo - maravilhoso, por sinal - de playstation 3. Minúsculo, deve levar uma hora e meia pra terminar se você for lerdo como eu sou. Enfim... Conta a história muda de um viajante - você - que vai em direção a uma montanha. Em seu caminho você por vezes encontrará outros viajantes. A princípio eu pensei que fazia parte da história, tratei de pegar os itens antes que o outro pudesse. De certa forma faz... É, no entanto, outra pessoa que está jogando. A ideia é justamente a de companheiros para a jornada. Não se trava uma jornada sozinho e o jogo insiste nisso desde seu conceito. Journey é lindo, tanto visualmente quanto de conteúdo. A ideia, segundo os desenvolvedores, é criar um laço entre as pessoas, fazer com que elas se importem umas com as outras através do jogo, mostrar "o lado positivo da humanidade". De certa forma dá certo. Quando percebi que se tratava de uma pessoa e não de um programa, minha atitude mudou completamente, ajudar e tentar se comunicar da melhor forma com o companheiro de viagem é praticamente obrigatório no jogo. Não há comunicação efetiva, e essa era a ideia. Não há nomes - até acabar o jogo - e isso também faz parte do jogo. Os desenvolvedores dizem que retiraram, deixaram só o cru - do jogo e dos jogadores - para que os preconceitos não ficassem entre os jogadores. Bom... claro que não vou dizer nunca que um jogo consegue sequer chegar perto do contato real tete-a-tete. Mas devo admitir que, em um mundo onde as relações estão cada vez mais afastadas e as pessoas cada vez mais individualistas e isoladas, Journey é um jogo interessante, com uma proposta interessante e que vale muito a pena ser abraçada - tanto dentro quanto fora do video game. Se tem uma coisa que é absolutamente verdade nesse mundo - e o jogo mostra bem isso - é que nossa jornada, seja qual for, nunca será solitária.