terça-feira, 31 de julho de 2012

divagações sobre a contemporaneidade e blablabla

Minhas idéiologias se perderam no cinza dos suicídios urbanos.

prédios pílulas putas compras viagens boates programas de tv canais de radio almejar a mediocridade é isso que é é isso que é porra onde estão as verdades onde estão as coisas tangiveis mentira se tornou o ser humano a verdade é a ciência é a religiao que vêm a negar tudo o que sentimos aí fica a pergunta o que verdadeiramente desejamos será que é um carro uma casa uma mulher e dois filhos um emprego estável não porra claro que não vou dizer o que desejamos

Felicidade

não é um estímulo freudiano nem tampouco um sonho de dalí não não é um sofrer rimbaudiano ou uma evasão baudelairista não é uma ambição napoleônica nem uma cruzada à la gandhi muito menos senhores muito menos uma vida como a de jesus não o que desejamos não é isso vocês sabem vocês sabem muito bem só precisam precisam começar a porra começar a ver o que vocês querem afinal querem ser felizes não é não é isso e pra isso todas essas ideias são vendidas inacreditavel inacreditavel como o mundo virou um mercado e como as ideias viraram produtos - de segunda classe

por isso me perco por isso minhas idéiologias se perdem se perdem porque não tem o que encontrar não tem estou tão ou melhor estamos tão entorpecidos - é essa a palavra - pelos nossos suicídios diários - pílulas prédios compras putas etc - que não dá pra prestar atenção em mais nada só queremos ser felizes e é com esse suicídio que conseguiremos com esse suicídio da alma não é não é

NÃO É?!?!?!



NÃO!
Não, caralho, não é!


Preciso... preciso parar de sentir... só assim vou parar de sofrer


Preciso parar de enxergar... só assim vou parar de ver o quanto há de falso


Preciso parar de falar... só assim vou parar de errar minhas opiniões


Preciso parar de ouvir... só assim vou parar de ter incerteza da minha certeza


Preciso... preciso... preciso parar de pensar... só assim eu... ... ... ...




Preciso me encapsular numa pílula antidepressiva preciso viajar para Paris conhecer a Grande Muralha preciso desse carro dessa promoção desse dinheiro disso! eu preciso disso EU PRECISO DISSO PRECISO PRECISO DISSO PRECISO DISSO AGORA!


Preciso parar de viver... só assim a vida fica mais suportável












Não...






Não...






Nã...






N...






...






não há expectativa nenhuma... tenho medo de me decepcionar


o que há para encontrar?

pra que continuar procurando?

desista.

desisto.

Ruptura Epistemológica

Como é difícil dizer eu te amo... por quê? Falam de banalização do amor... mas acabam pregando a elitização e o distanciamento do sentimento. Amar não é privilégio, é humano, não é raro nem deve ser, é corriqueiro, diário, mundano, e não é nem nunca será por isso que perderá seu significado e sua beleza. Amar é viver, não é eterno, tampouco fugaz, é simplesmente amar, é ser, é estar, é querer, é sentir... Enfim... É bom. As pessoas deviam dizer eu te amo mais vezes...

Eu te amo

Eu te amo

Eu te amo

(...)

sexta-feira, 27 de julho de 2012

enfim alguma coisa nova

Se toda a dor é o que me segue
Se toda veia se arrebenta espontânea
Se todo sangue que corre, rio, ferve
Se toda morte morre e sangra.
E se todo mundo corre e corre
Pela fila desorganizada da pele
Se todo mundo corre e morre
Se todo mundo fede e fede.
E todo mundo sofre e sofre
E todo mundo cai e se arranha
E todo mundo esquece e se perde
E todo mundo tem fome e tem sede
E se todo mundo sangra?
E se o mundo sangra?
Se toda dor é o que nos segue
Se toda veia é o que nos aperta
Se todo sangue é o que nos afoga
Se toda morte é o que nos liberta.

sábado, 7 de julho de 2012

Mergulho

    - Como foi o trabalho?
    - Bom.
    - Ah... que bom... - voltaram a comer, o silêncio cortante sendo perfurado pelos arranhados dos talheres nos pratos.
    Carne, feijão, arroz. No dia anterior comeram as sobras do macarrão de segunda-feira. Amanhã, provavelmente comeriam as sobras de hoje. Carne, feijão, arroz. Carne, feijão e arroz suficientes para o resto da semana.
    Terminaram, Maria recolheu os pratos e levou-os para a pia. João foi para a janela e acendeu um cigarro, o som fulminante do trânsito invadindo o esmagador silêncio do apartamento. João tragou, Maria enxaguou, João observou as cinzas caírem, silenciosas e incandescentes, e se desfazerem no vento noturno da avenida central, Maria mordeu a unha, o esmalte recente já corroído, enquanto observava a máquina de lavar - seu presente de aniversário do ano retrasado - funcionar, João esmagou o cigarro no parapeito, Maria hesitou.
    - Você lembra daquela viagem que fizemos? A que fomos pro Maranhão? - perguntou e, após não receber resposta, continuou - Eu tava pensando em fazer algo assim de novo. Faz tanto tempo que a gente não viaja junto, achei que podia ser bacana. Dei uma olhada nuns destinos na internet e vi uns...
    - Maria... - interrompeu-a João - você acha mesmo que a gente tem grana pra isso? Você viu a conta de luz desse mês?  A de telefone? Tá foda, porra! E você fica pensando em viagem? Deixa viagem pra quem pode pagar.
    Maria se calou. Voltou sua atenção novamente para a máquina de lavar e suas unhas. João encheu até a metade um copo com uísque barato e foi ver o jogo. Maria foi para o pequeno lavabo no canto da área e vomitou. As mãos no ventre virgem, ventre maldito que nunca tinha dado vida, agora revirava-se como se para machucá-la. Vomitou mais e mais, toda carne, o feijão e o arroz, toda a coca-cola, todo o esmalte que roera, todo o uísque que bebia quando seu marido não estava em casa. Tudo foi se acumulando em uma espécie de sopa vertiginosa de vergonha, medo, impotência e depressão, nojenta, amarga, biliar. A cor amarelo-esverdeado que ficou o pequeno vaso do lavabo e o cheiro acre do vômito eram, por si só, o suficiente para fazê-la vomitar mais. Quando não havia mais nada, Maria rapidamente fez o mesmo procedimento de sempre: agarrou o aromatizante de ar e deu descarga. Não podia deixar o marido vê-la neste estado, não sabia bem porque. Era uma mistura de medo irracional e orgulho.
    João, que rapidamente se embriagava toda noite antes de dormir, já estava em seu segundo copo de uísque. Não punha gelo, não apreciava, só botava no copo e virava goela abaixo, o líquido viscoso e quente ardendo seu esôfago numa espécie de auto-flagelo masoquista. Odiava aquela dor, mas se impunha toda noite e acabava por sentir certo prazer nela. Era seu ritual, uísque barato, isto é. Pouco importava a televisão ligada, não estava nem se fodendo para o que estivesse passando, contanto que houvesse som e luz que embalassem seu entorpecimento. Sabia que Maria vomitava, não era idiota como ela pensava que fosse. Aquele perfume ridículo de flores não conseguia esconder o cheiro acre do fracasso vomitado. Enquanto isso, engolia o seu próprio, dolorosa e forçosamente. Era barato como o uísque que bebia, sabia disso mas, uma vez embriagado, não importava. Uma vez embriagado, nada importava, nem contas, nem o emprego, nem a casa, nem os sonhos da mulher, nem seus próprios. Não lhe incomodavam os medos, os anseios ou as frustrações, estava completa e confortavelmente entorpecido, como na música.
    Assim foi, após o término do jogo, cambaleante para o quarto. Sua mulher já se encontrava deitada, o abajur aceso iluminando um exemplar de "A Cabana" que ela lia com seus delicados-rústicos óculos de leitura. João não se incomodou em dar boa noite, apenas despiu-se e deitou-se, as costas viradas para a esposa. Maria ainda segurava o livro, mas a ansiedade, a mesma que sempre está presente quando se aproxima demais do marido, não a deixou ler. Pôs o livro na mesa de cabeceira, apagou o abajur e deitou-se, a os olhos fixos nas sombras de relevo no teto. Olhou para o marido, as costas nuas cansadas e lembrou-se de quando eram jovens, saudosa. Não, a quem queria enganar? Já não eram felizes então. Porque casaram? Simples... não tinham porque não casar. Já estavam namorando por dois anos, não se amavam mas se bastavam e isso era o suficiente. João tinha arrumado um emprego e seu pai gostava dele. Era bonito naquela época, antes dos maus tratos do fumo e da bebida, do trabalho e do trânsito, as cicatrizes profundas da vida adulta. Era bonito, gostava de falar, lembra-se. Gostava de ouvi-lo falar. Bastavam-se. Era, era o suficiente. Olhou para as unhas, os esmaltes devorados eram a evidência de seu crime. Não, não era o suficiente! Hoje, amaldiçoa aquela Maria de anos atrás, amaldiçoa sua inocência e ingenuidade adolescente. Esperou ter certeza de que o marido dormia e começou a chorar baixinho. Virou-se de costas para ele e usou o travesseiro como lenço.
    João sabia que Maria chorava, chorava toda noite, mas estava embriagado demais para ligar. Lembrava da Maria jovem, deitada em seu colo enquanto ele falava de seus planos. Lembrava da forma como ela arrastava os dedos pelo seu peito, como gostava daquele lento arrastar. Sentia-se cansado, exausto. Odiava seu trabalho. Odiava seu patrão, seu salário, seu cigarro e seu uísque. Odiava até a si mesmo, mas não odiava Maria. Gostava dela. Não a amava, mas gostava dela. E agora, ela estava chorando ao seu lado, como todas as noites. Teria consolado-a, abraçado-a... mas estava embriagado demais para ligar. Dormiu com o peso do álcool ultrapassando o de sua consciência. Maria continuou chorando até dormir, cansada, o rosto e o travesseiro molhados de lágrimas.

    João acordou no horário habitual, tomou banho, escovou os dentes, se vestiu e foi trabalhar.
Maria acordou no horário habitual, tomou banho, escovou os dentes, ligou a televisão e pegou o uisque do marido.

    Ambos respiraram fundo ao acordar. Era o fôlego que tomavam para o mergulho profundo que estavam para dar.

    Mergulharam.

    Mais uma vez.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Feminismo Moderno

Antes de começar, gostaria de deixar claro que este texto representa a minha opinião apenas, esta que adoraria ser contestada. Sou leigo no assunto e, como tal, deixo minha opinião de leigo. Bom... ao texto...


"O meu corpo é meu e eu faço com ele o que eu quiser"

Vejo no feminismo hoje algo que pode ser um reflexo da sociedade fora de contato consigo. Do humano que simplifica o humano. Há muito mais nesta frase que um aval para fazer sexo com quem desejar ou se vestir da forma como quiser. O que me incomoda no feminismo atual não é o grito pela livre expressão sexual, óbvio que não, não sou tão retrógrado, mas são os argumentos... ai... "Se o homem pode trepar com várias, porque eu não posso?" O problema aí não é a mulher querer ter os mesmos direitos do homem, não é a iconoclastia moral... é a completa e total banalização do ser humano e das relações interpessoais. Há muito mais em se afirmar que "meu corpo é meu" do que a simples libertação do julgo alheio. Duplicidade, cumplicidade, o corpo como algo que me pertence representa a terceira pessoa presente na primeira pessoa, a dualidade corpo x alma, sendo alma a consciência (e a inconsciência), essa dualidade que não é dicotômica, pelo contrário, se complementa, é uma simbiose perfeita. Quando somos o corpo e vivemos pelo corpo, esquecemos aquele outro "eu", aquela outra primeira pessoa a quem o corpo serve e pertence e que serve e pertence ao corpo. Viver apenas pelos apelos do corpo não é, creio, viver plenamente. A superficialidade emocional que deriva do hedonismo. Este, louvado e entoado aos coros e hinos pelo homem (ou mulher, não importa) contemporâneo(a). A busca da mulher por liberdade se confunde com a efemeridade com que as pessoas tratam a vida. Ser livre não é ser livre sexualmente apenas, independente do seu sexo ou gênero. A valorização do gênero se confunde com a desvalorização do ser humano. A mulher deixa de ser objeto a partir do momento que se trata todo ser humano como objeto? São (somos) meras ferramentas do próprio prazer? E não seria essa demonstração da sexualidade através de um estereótipo (do qual a Valesca faz parte) de beleza, o da, para ser bem curto e grosso, mulher "cavalona", uma forma de encarcerar a mulher naquela busca por um ideal estético do qual ela tenta fugir com o feminismo? Valesca incita a mulher a expressar sua sexualidade, mas de que forma? Da forma como ela desejar ou da forma como ela, Valesca, expressa? E se torna, gostando ou não, um símbolo sexual, objeto, novamente, para os homens. É aí, no entanto, que se encontra a mudança de pensamento. Não importa mais ser objeto, contanto que trate como objeto também. Essa é a igualdade que vejo no feminismo atual, não se trata da valorização da mulher, não se trata da exaltação da feminilidade, mas da redução das relações humanas a um objetivo de prazer egoísta e hedonista, um ser-usado-e-usar-o-outro consensual. É um corte por baixo, tratando estereótipos de homens como verdades e se igualando a eles. Não é o combate ao machismo, mas o pareamento do feminismo com o mesmo. Tudo, tudo, para mim, reflexo de uma sociedade irreflexiva e egocêntrica, que transforma as próprias relações interpessoais em uma forma de satisfação do ego. Ego imenso e nunca questionado. Uma sociedade alienada e alienadora, volta-se para si mesma mas sem nunca, nunca se enxergar. Perde-se o "eu", a alma, e sobra o corpo. Autômatos sem consciência, até mesmo os movimentos de contestação e de contra-cultura corroboram com essa cultura aculturada, contra o nada, nada se pode fazer. Criar seria a solução, mas estagnamos, já disse em outro texto. A morte da criação e da poesia, esse é o resultado. Um feminismo, que ora foi grande questão debatida, agora se resume a satisfação pessoal. Palavras lindas do símbolo feminista: "Porque quando a piroca tem dona é que vem a vontade de foder.". Me chamem de moralista, eu não ligo. Chamo-os de volta, moralistas de uma moral que lhes serve, mas que é podre, como tudo que se fecha em torno de si. 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Jogo

Você é triste
Triste estou
Estou com medo
Medo de morrer
Morrer de fome
Fome de sentir
Sentir calor
Calor de você

Você é frio
Frio ao escrever
Escrever ao nada
Nada é para ser
Ser não basta
Basta pra você

Você é copo
Copo vazio
Vazio de ar
Ar que corta
Corta as tripas
Tripas penduradas
Penduradas em túmulos
Túmulos para os mortos
Mortos vivos
Vivos e sozinhos
Sozinhos como você

Você é televisão
Televisão matinal
Matinal o vidro
Vidro do olhar
Olhar para tela
Tela espelho
Espelho do olhar
Olhar o vazio
Vazio sem notar
Notar você.
Já lhe disse das mãos, são o alcance da alma, são a forma que encontro de tocar o mundo, minha conexão com o que é externo. Toco, sinto, conheço. Se da aspereza vem o calejamento do trabalho, da maciez vem a virgindade do aluno. Ávidas por conhecimento, as mãos macias são aquelas que buscarão o toque com mais afinco. E são, por isso, as mais lindas. O toque. A conexão com a alma.
Carnificina


Carne


Sangue


Vermelho


Cor


Amor


Desejo


Sexo


Calor


Suor


Saliva


Fluido


Sangue


Vermelho


Carne


Carnificina


Morte


Vida


Criação


Novo


Velho


Antigo


Presente


Ausente


Mente


Sente


Medo


Alívio


Alegria


Palpitação


Coração


Sangue


Carne


Carnificina


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