segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Como nunca me furtei ao desagrado, tenho em sangue e osso os modos do desgosto. Conheço bem bem a dor, desde moço. Vejo mel em ancolia se acabar. E se caio, pois, a lágrima que todos brotam, sei muito bem de seu salgado paladar. Salgado então, que tem mais gosto do fel que é doce de abelha. arranha bom e gostoso, a ferida exposta, quase, quase morta, mas ainda respira aliviada. pinto apertado ao encontrar privada. puxada de ar de pessoa afogada. a vontade do suicida, sem a prática. o deleite de planejar a própria morte sem (necessariamente) executá-la. morte bem matada, cujo único agente é a tristeza. então não é suicídio! somos meros instrumentos da dor... velha maldada, mal-dita, mal-gozada que chega de vez em quando meio engraçada, sedutora, chamando-se para nosso dentro, para fazer do tudo um nada, e, trazer a paixão pelo nada; tudo! Transforma com habilidade o choro em mudo, transforma com habilidade o choro em mundo. mundo meio assim, meio gostoso. de autista furioso. de espaços e lacunas e mentiras a se contar. mundo a ser preenchido com o gozo e os sonhos de quem não se furta a chorar.

domingo, 13 de outubro de 2013

uma confusão incoerente e generalizada vinda de uma tentativa nada digna de fazer uma musica

tudo o que me fizeram meu e a cidade que me deu a mim
sente no próprio eu todas as coisas que me são em mim
faz parte de parte seu, que é eu, mas não é meu em si
faz parte de tudo o que sou eu que você tem em mim
que você tem em ti
que eu tenho em mim
que eu tenho em ti
que você tem em mim
tudo o que somos, sou, e o que és é pra mim o que é pra ti
tudo o que ficamos, estou, e o seu é meu e nosso enfim
todo o nosso amor que sinto, sou, és, ter-nos dos pés
ao céu e ao chão, então, infinito amor que tenho por ti
e tudo o que há em mim, és
tudo que há em ti, sou
tudo em nosso amor é
para ti, sou nós.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

parto natural

a luz do alvorecer lhe cegava os olhos. era daqueles alvoreceres virgens de área matada - viva. para ele, era como se fosse o primeiro alvorecer que via. o primeiro dia a nascer chorando e se debatendo, se revoltando com tudo e sedento por alimento, conhecimento e amor. todos os alvoreceres que presenciara anteriormente eram natimortos, abortados pela própria identidade morta de sua terra infértil, asfaltada cinza-de-tédio, tédio-de-morto. sentia-se nascendo com o sol, vermelho-sangue-de-parto, sangue de mãe. chorava, os olhos ardiam ante o mundo tão vasto e absolutamente empolgante e temerário além do conforto uterino. nascia bem e firme, nascia vivo.