sexta-feira, 31 de agosto de 2012

DUNA

de areia branca,
de lençol maranhense,
de cama de Terra,
teto de firmamento.
de vento quente,
que traz a vida,
que traz a chuva,
que faz o aperto,
que produz o beijo.


tirando do baú, resolvi postar

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Deus

É de Tédio a expressão da Morte,
E é de Tédio que morro.
Eu, com espírito de Fausto,
E dor de conhecimento.

Para onde vou agora?
Só não sei da Morte.
Pois então, morro.

A aventura da ignorância,
O infinito tem fim, afinal.
E não é tão longe quanto dizem.

E a parede excruciante
- O Tédio
O que há além?
- A Morte

Ah!
Me lanço novamente
Em direção ao Desconhecido
- Quão lindo és!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

nostalgia do futuro

passa... tudo passa, não tem muito jeito... e vendo agora você aqui dormindo do meu lado bate certa dor saber que isso também vai passar... essa coisa que a gente tem, esse gostar tanto um do outro... vai passar... e depois vou me perguntar (e já faço isso por antecipação): "foi tudo em vão? acabou tão acabado, que não restou nem foto pra relembrar..." passa... você passará, eu passarinho baleado.

domingo, 12 de agosto de 2012

ah que belo repousar sob as estrelas tensas de são paulo, temendo a todo momento fim da sua fosca luminescência... luz das estradas e nuvens dos canos de descarga ameaçam suas vidas vãs, ignoradas. ninguém lhes presta atenção e quer saber, é melhor que sejam assim, assim ganham humildade não ficam pomposas como as estrelas de outrora (ou outrolugar). é belo o repousar justamente pela vastidão do cinza nevoento e sujo, a amplitude do nada cognitivo que me faz pensar... "ei... somos tão vãos e efêmeros quanto poderíamos ser, se nem estrelas são alguma coisa aqui, quem (quê) somos nós?" a metrópole me faz pensar.. as multidões me segregam para dentro de si. dicotomia complementar, não faz sentido, ou não deveria, mas faz e ponto, é assim que é. que é estar dentre milhões e se sentir sozinho? é o efeito da contemporaneidade, o afastar/esconder das estrelas sob a densa camada de cinza... reconfortante e desoladora.

Porque a Nossa Sociedade é Machista e Nos Estupra Com Seu Falo Idealizado Diariamente

Pegue-o, abrace-o, adore-o.
Beije-o, lambe-o, chupe-o.
Falo mesmo!
Falo porque tá na boca do povo.
Falo porque tá no mundo.
Falo no falo, falo, falo sim. Falo, tu quer também, pode falar.
Fica de quatro, porra. Tu quer sim!
Fica de quatro!
FICA DE QUATRO AGORA!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Epitáfio

Porque, para todos os efeitos, estou morto. Morto. Morto. Morto... ainda assim a minha voz ecoa no mundo dos vivos... porque? Se a morte é o fim, eu reticento, se a morte é o nada, eu tudo. Se viver é possível, então é, se minha presença é plausível, então sou! Estou vivo enquanto minha voz continuar a ecoar aos ventos, enquanto o que disse e digo permanecer nas cabeças e corações e o que eu fui continuar sendo.





Breno Crispino Lima

07/08/1993 - Hoje

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

onde você tá? tá me vendo? consegue me enxergar? duvido, duvido... você não consegue ver nada além do seu umbigo... quê? a gente disse q se ama mas é mentira não é? você sabe disso, eu sei disso... nem sequer sei o que é amar... amor... trepar... torpor... beijar... bolor... enfim... foda-se tudo isso, foda-se isso tudo, que vá para o fundo do poço me procurar mais tarde, é onde estarei e pronto, morro no ponto, tonto, com fome, com tanto... vazio... com tanto frio... com tanto amargor, dor gelada, elétrica, cadavérica de um frankenstein que não deu certo, de certo, certo, perto do fim, todos nós nos encontraremos onde eu me escondi. olharemos para trás e pensaremos... é... poderia ter sido diferente... mas sempre nunca é. nem poderia ser.

a trajetória de um corpo em queda livre (sempre será para baixo)

c
a
i
n
d
o
.
.
.
.
.
.
caiu............r e s p i r o u f u n d o........morreu

Marketing Strategy

Imagina! imagina o seguinte slogan "EU TE AMO" a gente põe em comerciais, outdoors, vidros de carro, carrinhos de bebê, em tudo, em tudo. Imagina como venderia! Venderia que nem água, é isso, entendeu?

E o que a gente venderia?

Como assim "o quê"?! Venderíamos pessoas, é claro. Imagina só! "EU TE AMO"! Quem não compraria?

O poeta está morto

Para o Frejat

Hoje não tem jornal,
O dia nublado
Mal dá pra ver
Sob a névoa de sangue.

Não tem quem avisar
O fim do crepúsculo
As lágrimas afirmam
O pesar do firmamento

Os poetas morreram
De desgosto ao seco vento
Estagnando assim
O nosso momento

Mas quem ainda não é surdo
Logo cegará
Quando findar o crepúsculo
De nossos dias sem tempo

Se você espera ser forte
Esqueça, não tenta
A humanidade é desumana
Já não vale a pena

Todo mundo é igual
Quando sente dor
Mas a dor é o que nos sente
Crua, sem ardor

O poeta fugiu,
Foi ao inferno e lá ficou
Esqueceu o Éden
Esqueceu o que é amor

Mas quem não é surdo aqui
Ensurdecerá
Na grande explosão
Do firmamento... (2x)

Nãaaao... nãaao... nãaao...

O poeta não morreu,
Se sentou e se dopou
Sem sentir nada
Apodreceu

E quem ainda consegue sentir
Se perderá inteiro
Suas frágeis emoções
Transformadas em cinzas pelo vento seco (2x)

Nãaaao... nãaao... nãaao

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Introdução : Genesis

Era nada. E era tudo. O que é o nada fora do tudo? É a ausência absoluta ou o desconhecimento absoluto? Era nada pois nos era irreconhecível e era tudo pois era. E ser nunca estará despido de valor. De nosso insignificante ponto, observamos o resplendor com que nos iluminava o escuro do desconhecido, o irreconhecível, o inexplorado. Algo aconteceu que nos fez tentar alcançá-lo, nos lançamos para todas as direções, em vão, quanto mais avançávamos naquela escuridão inominável, mais ela se abria diante de nós. O conhecimento era apenas a tentativa de tornar reconhecível aquela... aquela...

Viramos estrelas, planetas, satélites... Formamos todo um complexo sistema, para, de alguma forma, compreender melhor aquilo que nos cercava, ameaçador e maravilhoso. Nos complicamos mais e mais... formamos elementos, do mais leve, do que éramos, ao mais pesado, que haveria, há, ainda, tenho certeza, se tornar ainda mais pesado. Pesado... A insistência nos fez morrer e renascer diversas vezes... Nossos corpos despedaçados lançados em outros corpos nossos. Diversificamos. Renascemos. Brilhamos. Esquentamos. Explodimos. Resfriamos. Nos perdemos. Nos assentamos. Nos unimos. Nos desencontramos. Uma longa e maravilhosa história de encontros e desencontros, estávamos fadados para sempre a ser e não ser juntos, nós, eu, você. Somos agora. Sou. Seremos. Ainda buscamos aquilo que nos assombra: o desconhecido. Ainda nos assola aquilo que será para sempre nossa sina: a ignorância. Nunca, sabemos, poderemos fugir de nosso fatal destino, mas persistimos. Sabemos que, inevitavelmente, nossa busca nos levará a nosso fim, mas não podemos nunca parar. Não queremos. Que venha o fim então. E que recomece. E recomece. E recomece...

Em nossa busca, só ouvimos uma voz
“Eu sou a materialização da minha consciência, há muito desejosa pelo despertar. Sou a criação e os meios criadores. Sou tudo, sou absoluto. Eu sou a capacidade de me enxergar, de me perceber, sou a tentativa de auto-análise por meio de uma terceirização de mim mesmo. Sou ego, sou alter, sou o totem, sou o tabu, sou o prolongamento de uma realidade que eu fui e continuarei sendo. Sou a inconformada incógnita, o mistério a se auto-desvendar. Sou a mente pensante de um corpo muito maior do que cabe a mim. Sou a expansão de uma noção que, a mim mesmo, não é ainda aplicável, mas será. Me expandirei, ainda, mais, até o ponto em que eu me torne compreensível e, assim, consiga finalmente atingir o patamar de auto-compreensão total. Quando este dia chegar, não precisarei mais ser, não precisarei mais me prolongar. Me encolherei, acolhendo-me em minha futura eterna não-existência. E assim o Universo acabará.
Quem sou eu? Sou você, sou nós, sou tudo, sou a Natureza.”



Um rapaz sentado num ônibus lê uma notícia no jornal que segura com uma das mãos. Com a outra, coça a barba rala. “Viemos de pó estelar”, dizia a notícia. O rapaz pisca os olhos desinteressados e os volta para a bunda de uma garota loira de pé logo ao seu lado. Não era novidade isso... lembrava que já tinha visto há algum tempo num documentário desses de um Discovery Channel da vida. Não se impressionara... pouca coisa o impressionava desde os quatorze, quando decidiu virar as costas para toda aquela mentira que lhe metralhavam na cabeça. Religião, capitalismo, new age, o que fosse... um bando de merda. Só confiava em si e em suas conclusões e sabia que era melhor assim. A garota percebeu o rapaz que a encarava a bunda e virou de lado, visivelmente nervosa. O rapaz esboçou sorriso. Não para ela, mas por tê-la feito olhar, arregalada, por cima do ombro para ele. Logo ele, seu corpo franzino e comprido não representando uma ameaça para um colegial. Riu leve e discreto, como normalmente era, ajeitou o cabelo preto e denso que lhe caía nos óculos finos, colocou os fones de ouvido e ligou a música no máximo. Recostado na cadeira, fechou os olhos e suspirou...



Meus pêsames, Ricardo... Tinha era muito jovem ainda... Eu sei que você amava muito ela... Foi câncer, não é? Como você tá? Você tá bem? Se quiser conversar, pode me chamar... Se precisar de um ombro amigo... Ricardo... Ricardo... Ricardo... as vozes se confundiam e o ar, já abafado pelo pesar, se tornava áspero ao passar por qualquer coisa que estivesse entalada na garganta. Ricardo respondia, sentia as palavras se formarem, mas não sabia o quê elas queriam dizer. O padre, amigo da família e a quem tinha muito respeito, veio lhe falar.
- Ricardo, sei que é um momento difícil, mas é também uma oportunidade para se aproximar de Deus... e lembre-se que Tinha se foi, mas está agora nos braços de Deus, num lugar muito melhor.
Ricardo se concentrou no que ele dizia, para entender minimamente e acenou com a cabeça, um sorriso fraco lutando para permanecer por debaixo de seu espesso bigode branco.
- Obrigado, Padre... – murmurou baixo – Confiarei no Senhor...
O padre sorriu e apertou o ombro de Ricardo antes de dar-lhe as costas para falar com outros presentes.
Muitos discursos foram feitos aquele dia, todos sobre Tinha, todos com palavras lindas e torrentes de lágrimas. Ricardo não se lembra de nenhum. Se negou a discursar, Tinha odiava discursos...



- Tchau, amor, bom trabalho. – e, sob sorrisos e olhares doces, trocaram um rápido beijo – Vai lá pra não se atrasar.
Rogério fez que sim, lançou um “eu te amo” e correu para o elevador que o esperava pacientemente, sem esperar resposta da esposa. Rita o observou entrando, envergonhado, agradecendo e se desculpando com os que seguravam a porta do elevador. Dissipou o sorriso e fechou a porta. Suspirando, se alongou, fez sua tradicional sessão de yoga de meia hora e foi para a varanda, a vista enevoada do Leblon enchendo seus olhos. Tirou as roupas, e sentou-se na espreguiçadeira, onde uma garrafa de conhaque importado e um copo de cristal a esperavam. Serviu-se e deitou-se nua, os olhos, a única parte do corpo escultural coberta por óculos escuros. Esvaziou o copo de uma vez e serviu-se novamente do conhaque. Riu ao perceber o filho do vizinho a obervando, intimidado. Esvaziou outra vez o copo. E outra. Já embriagada, e ignorando os protestos de seus pêlos eriçados pelo frio, masturbou-se, divertindo-se com o olhar pasmo do garoto de 13 anos. Berrou ao atingir o orgasmo.








Chovia





Já fomos chuva.
Já chovemos sobre nós, em melancólico cair sobre si.
Já fomos chuva, viramos mar.
Viramos vida e despertamos.

“A garoa me lembra a infância.”
“Correr sobre os paralelepípedos molhados, o vapor e o cheiro de chuva, as folhas da amendoeira pingando, a calha virando cachoeira... o corpo que encontramos no asfalto molhado... a chuva vermelha...”
“Chuva sempre me foi contraditório, as gotas que trazem a vida trazem também a dor de viver...”
“Chovia quando eu nasci.”
“Chovia quando ele morreu.”
“Chovia quando tentei me matar”
“Chovia quando ela aceitou se casar.”
“Chovia em mim, chovia comigo.”
“Chuva me lembra aconchego, cobertor, filme, chocolate quente.”
“A chuva me reconforta, me acaricia o rosto, me dilui as lágrimas.”
“A chuva me dá frio por dentro, me sinto exposto.”