terça-feira, 24 de maio de 2011

Música

Muito bem, eis algo inédito no blog. Música... é estranho, mesmo eu sendo um grande amante da música nacional e internacional, nunca compartilhei essa minha paixão por aqui... aí está, portanto, minha redenção. Uma pequena seleção de músicas que eu acho que merecem ser compartilhadas.

01 - Desengano - Lula Côrtes

02 - Filosofia - Noel Rosa (interpretada pelo grande mestre Paulinho da Viola)

03 - Autonomia - Cartola

04 - Roda Viva - Chico Buarque (e MPB4)
                                                              
                      05 - Nomes de Favela - Paulo César Pinheiro (interpretada por Moyseis Marques)

As Máscaras que Revelam

"Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim"

- Filosofia, Noel Rosa

  - Uma coisa que eu queria destacar do filme é que o nariz do palhaço, como foi dito, é o olhar do palhaço para o mundo. O nariz, a máscara, que pode causar estranhamento, é também uma forma de libertação para o palhaço, é quando a pessoa por trás do nariz pode se livrar dos medos e dos julgamentos e falar o que pensa, fazer o que quer fazer. O nariz é a chave para a subversão do palhaço, para sua ousadia, o nariz é sua máscara. No entanto, a máscara não é uma ferramenta exclusiva do bobo da corte, do arlequim... Nós, comuns civis, também a possuímos. Nosso nariz de palhaço, no entanto, é o que tentamos parecer quando nos travestimos de estereótipos, estereótipo do inteligente, do rebelde, do triste e, principalmente do dito bem sucedido, o  rico. Ao contrário do nariz do palhaço, que o liberta, nosso nariz nos enclausura dentro de uma imagem, que só pode ser frágil, só pode ser falsa. -

Ontem fui a um evento onde se encontrava o ilustríssimo antropólogo Roberto DaMatta. Comentando sobre o filme documentário "Doutores da Alegria", o professor DaMatta destacou alguns pontos interessantíssimos, um deles eu tentei sintetizar da melhor forma que pude (baseando-me na minha própria interpretação) no parágrafo acima, claro que, adicionando e subtraindo uma coisa ou outra...

Há algo de interessantíssimo no que o professor falou dos "narizes de palhaço", quando visto de um ponto de vista mais generalizado. Historicamente, desde os tempos feudais até nosso muy amado capitalismo neoliberal, vemos uma sociedade estratificada, hierarquizada, pnde quem está na base da pirâmide de poder quer se tornar quem está no topo. Víamos isso com as compras de títulos de nobreza, perucas e maquiagens (símbolos de poder na sociedade do antigo regime), etc... Hoje, o processo se repete por meio de viagens para a Europa, roupas de marca e perfumes caríssimos... esses são seus "narizes de palhaço". A vontade de ser rico é tanta que alguns são capazes de criar dívidas imensas só para manter seus narizes no lugar. Vão "fingindo que são ricas, para ninguém zombar delas", como disse Noel Rosa em sua canção.

Esta vontade de ser rico, seria, por algum acaso, vergonha de ser pobre? Ora, certamente que sim! E é compreensível! Afinal, quem não gostaria de poder ir àqueles lugares maravilhosos que aparecem na televisão ou de comprar aquelas roupas bonitas e caras e aqueles adornos dourados, brilhantes. Quem não gostaria de ter status e ser respeitado? Esquecem as pessoas, no entanto, que quem faz o casaco de pele que o rico compra por mil e quinhentos reais na sua loja favorita do Shopping Leblon é o trabalhador, que ganha um salário mínimo para fazer algumas dezenas de unidades. Esquecem que é o classe baixa e média quem sustenta o classe alta. Vêem a si mesmo com repulsa e vergonha e admiram quem vive às suas custas.

Vestimos narizes de palhaços para nos tornarmos quem sustentamos e quem nos explora. Vestimos narizes de palhaços, como Noel apontou, para que não zombem da gente. Não zombam do palhaço, zombam do ser humano!
Se os narizes dos Doutores da Alegria conseguem nos ensinar como podemos nos tornar mais humanos, mais livres, mais subversivos, mais contestadores, se eles os permitiram enxergar além do que os foi apresentado... aprendemos tudo errado. Nossas máscaras não escondem somente nossa identidade, elas se tornam quem somos, quem queremos ser para os outros e até para nós mesmos... Nossas máscaras não nos revelam, elas nos escondem, elas nos tapam a identidade e nos dão um caráter numérico. Somos mais alguns no meio de muitos... perdemos a singularidade que cada ser humano tem e pior! Por vontade própria! Escolhemos viver nas sombras de nossos medos, representados por nossas máscaras.

Quem é o palhaço agora?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Arlequim

Faz minha vida sorrir,
faz meu sorriso correr,
faz minha boca dizer sim.

No intervalo da dor você está lá,
meu arlequim,
para minha tristeza sarar.

Só um sorriso já basta,
meu arlequim,
para me levantar.

Só um sorriso já basta,
meu doce arlequim,
pra me apaixonar.


(era pra ser mulher, mas o feminino de arlequim é colombina e agora já era, ou seja a gramática me fode mais uma vez. agora eu que vou foder ela, vai ficar assim mesmo!)

domingo, 15 de maio de 2011

Egoísmo!?

Eu juro que te quero!
Eu juro que te espero!
Eu juro que te desejo!
Eu juro que me sinto,
incapaz de te ver feliz!
Será egoísmo?
O amor verdadeiro não deveria ser puro, incondicional?
Não deveria eu me sentir feliz em abrir mão da minha própria felicidade pela sua?
Eu juro que quero ser triste!
Mas juro que não consigo deixar de desejar ser feliz.

domingo, 8 de maio de 2011

A observar Janelas


Passei em frente ao seu prédio e parei; esquadrinhei a fachada, procurando tua janela. Uma vez encontrada, a observei atento, esperando... esperando que você aparecesse. Como Julieta apareceu para Romeu e Rapunzel apareceu para seu príncipe encantado.

Ora, por favor, não sou nenhum príncipe (que dirá encantado!) e tenho plena consciência disso. Mas que a mera visão de seu esplendor e beleza me traz sentimentos e desejos dignos de uma fábula, isso é inegável.

Mas você não apareceu. Você não me jogou suas tranças e temo que nunca o faça. A janela, afinal, mais do que um portal para o nosso encontro, é uma barreira de aço e vidro.

E se alguém passasse por aquela rua pelos breves minutos em que olhei para a sua janela, veria o que de fato acontecia: um rapaz observando uma janela.

sábado, 7 de maio de 2011

Sonetos, parte 8: Especulações em torno da palavra homem, Carlos Drummond de Andrade

Mas que coisa é homem,
que há sob o nome:
uma geografia?


um ser metafísico?
uma fábula sem
signo que a desmonte?


Como pode o homem
sentir-se a si mesmo,
quando o mundo some?


Como vai o homem
junto de outro homem,
sem perder o nome?


E não perde o nome
e o sal que ele come
nada lhe acrescenta


nem lhe subtrai
da doação do pai?
Como se faz um homem?


Apenas deitar,
copular, à espera
de que do abdômen


brote a flor do homem?
Como se fazer
a si mesmo, antes


de fazer o homem?
Fabricar o pai
e o pai e outro pai


e um pai mais remoto
que o primeiro homem?
Quanto vale o homem?


Menos, mais que o peso?
Hoje mais que ontem?
Vale menos, velho?


Vale menos morto?
Menos um que outro,
se o valor do homem


é medida de homem?
Como morre o homem,
como começa a?


Sua morte é fome
que a si mesma come?
Morre a cada passo?


Quando dorme, morre?
Quando morre, morre?
A morte do homem


consemelha a goma
que ele masca, ponche
que ele sorve, sono

que ele brinca, incerto
de estar perto, longe?
Morre, sonha o homem?


Por que morre o homem?
Campeia outra forma
de existir sem vida?


Fareja outra vida
não já repetida,
em doido horizonte?


Indaga outro homem?
Por que morte e homem
andam de mãos dadas


e são tão engraçadas
as horas do homem?
mas que coisa é homem?


Tem medo de morte,
mata-se, sem medo?
Ou medo é que o mata


com punhal de prata,
laço de gravata,
pulo sobre a ponte?


Por que vive o homem?
Quem o força a isso,
prisioneiro insonte?


Como vive o homem,
se é certo que vive?
Que oculta na fronte?


E por que não conta
seu todo segredo
mesmo em tom esconso?
 
Por que mente o homem?
mente mente mente
desesperadamente?


Por que não se cala,
se a mentira fala,
em tudo que sente?


Por que chora o homem?
Que choro compensa
o mal de ser homem?


Mas que dor é homem?
Homem como pode
descobrir que dói?


Há alma no homem?
E quem pôs na alma
algo que a destrói?


Como sabe o homem
o que é sua alma
e o que é alma anônima?


Para que serve o homem?
para estrumar flores,
para tecer contos?


Para servir o homem?
Para criar Deus?
Sabe Deus do homem?


E sabe o demônio?
Como quer o homem
ser destino, fonte?


Que milagre é o homem?
Que sonho, que sombra?
Mas existe o homem?