quarta-feira, 19 de junho de 2013

Porquê a corrupção não é a questão?

Muito se fala dessa história de corrupção, desde um bom tempo atrás. Talvez tudo tenha começado com o mensalão, não posso afirmar nada. A questão é que durante o governo Lula, cresceu-se uma certa insatisfação dentro, principalmente, de uma classe média que se considera achatada politicamente. Pois não quero discutir classe média. Quero que se foda isso. Quer discutir o porquê de eu achar - como sempre achei - a corrupção, enquanto objeto, foco, de marchas, protestos e o caralho para a mudança política, uma coisa... inválida, se tanto. Muitas pessoas que já tiveram a oportunidade de bater esse papo comigo vão achar as palavras repetitivas. São! Estou escrevendo isso porque eu, na minha ingenuidade de jardim de infância, acredito que tenha surgido um espaço incrível e único com essas manifestações em que o diálogo se tornou algo muito mais fluido e fácil, em especial de assuntos políticos. Espero conseguir dialogar com o maior número de pessoas e ajudar a construir cabeças, construindo a minha própria no processo... Enfim.. vamos à bagaça;

Corrupção é uma pauta moralista 
Pergunta-se "o que é corrupção?" e a resposta será uma confusão absurda que não nos leva a lugar nenhum. Há de se pensar então o que é o contrário de corrupção e, claro, chegamos à conclusão lógica de que é "pureza". A própria questão da pureza se torna uma questão moralista e cristã. Ora, ninguém é puro, logo, todos são corruptos... Mas e o protesto contra a corrupção?  Minha colega disse que é nas pequenas coisas que se começa. Esse que vos escreve, sim, este mesmo aqui, cometeu o crime hediondo de furar a fila quilométrica de um certo megashow. Praticamente um assassino. Não, não podemos levantar a bandeira da corrupção por suas questões moralistas... como já vi escrito em muito canto: que é errado ser "corrupto", todo mundo sabe. Mas isso não é pauta política. Se torna sim para uma classe que se acha "pura", no mais vil dos sentidos, e que carrega a moral e os bons costumes como bandeira. Mas sabemos quem essa galera é, né?


 Corrupção é algo que está no maior nível de superficialidade de uma questão. Isso nos leva ao próximo tópico.

Corrupção é extremamente superficial; inibe o senso crítico 
Quando pensamos em corrupção enquanto problema, não conseguimos abordar nenhuma dimensão do... real problema. A questão é que se a "corrupção" é um valor abstrato, qualificado baseando-se em valores e na moral cristã, ela se torna uma denominação artificial que é o suficiente e que esconde, portanto, as dimensões da realidade além da própria aparência. Isso posto que tal pessoa fez tal coisa porque é corrupta. Fim. A corrupção é a própria justificativa; ela é a característica do corrupto. Isso impede que se faça uma análise crítica do que de fato acontece nas mais diversas situações. A corrupção, enquanto causa política, nos blinda para uma reflexão mais profunda, que vai além do "corrompido". Não se pode resumir a história do mensalão, por exemplo, que a "galera anti-corrupção" adora evocar, a questão da corrupção. De fato, não se pode falar de mensalão sem se falar da própria estrutura política do Brasil e de suas falhas. Não se pode falar de mensalão e atribuir a questão ao Lula ou ao PT, isso é de um reducionismo grotesco da realidade. Mas ocorre, já vi, você já viu, leitor, e talvez o tenha feito, e a corrupção é usada aí justamente como o tapa-rolha da discussão e da reflexão. Ela basta. Só que NÃO BASTA. Há que refletir profundamente sobre o que estamos insatisfeitos e há que ter uma opinião além da superficialidade das coisas. Não se faz política mudando agentes de poder, mas alterando a própria estrutura das relações de poder e isso não faremos nunca enquanto evocarmos a corrupção como grande mal que assola o Brasil e ponto. Não há ficha limpa que faça o trabalho de um povo com senso crítico e questionador.

Por fim, a corrupção enquanto pauta daqueles que, eu acredito piamente, estão querendo de fato um outro Brasil
Esse é o motivo de eu escrever esse texto. Não acho, como alguns colegas acham, que a classe média que se ergue contra a corrupção seja uma classe média reacionária, conservadora, cabeça dura. Acho que essas pessoas de fato estão querendo um outro Brasil. Elas vão às ruas por um motivo! Não aguentam mais essa merda toda! Há que ficar puto mesmo! Há que bradar palavras de ordem! Mas também há que sair da sua zona de conforto, geográfica e intelectual, e ousar, conhecer o Brasil que se quer mudar e, mais importante que tudo, conhecer o Brasil que se quer. Isso, eu acredito, fazemos coletivamente, numa construção de diferentes pessoas, diferentes posicionamentos, porque assim é a sociedade e assim deve ser mesmo! Mas é preciso o diálogo, sempre, a discussão, sempre, sempre... enfim... coloquei essas coisas na mesa... se de fato alguém ler e discordar, sinta-se livre para comentar... é por isso que estamos aqui...