sábado, 31 de julho de 2010

Fanstasmas

Mais um texto pessoal, queridos meus... Esse particularmente será um difícil de escrever... mais pela minha dificuldade em tocar no assunto... ainda estou resolvendo o quão pessoal eu vou tornar ele. Mas enfim... descobriremos conforme eu escrever e vocês lerem.

Todos temos fantasmas que não nos deixam dormir, que nos fazem vagar os olhos pelo quarto, pensar incontáveis "e se"s, chorar e bater no travesseiro antes de dormir. Porque antes de dormir? Por que é justamente nessa hora que os fantasmas aparecem, quando o quarto está vazio e escuro e não temos outra opção além de pensar em nós mesmos, refletirmos sobre o que fazemos e fizemos... abrir feridas antigas, relembrar traumas, arrependimentos. Os fantasmas fazem nosso coração bater forte e fazem com que sintamos raiva de nós mesmos, tristeza, saudades, um misto de sentimentos que giram e giram e giram em nossa mente e descontamos no travesseiro, seja socando-o ou deixando-o molhado de lágrimas. O travesseiro se torna nosso bode espiatório simplesmente porque não temos coragem de enfrentar nossos fantasmas cara a cara. Não temos coragem de encarar nossos erros e nossos traumas e seguir em frente. Os fantasmas, muito embora invisíveis, assustam, e se fazem presente na vida. Nos impedem de viver aquilo que poderíamos estar vivendo, nos prendem ao passado com seus braços - imateriais mas - incrivelmente fortes. Os fantasmas tiram nosso apetite, nosso sono. Os fantasmas mexem com nosso estômago (aliás, o meu está se revirando só por estar escrevendo esta postagem) e nos deixam sensíveis a qualquer coisa. Por fim, os fantasmas não deixam a ferida cicatrizar, eles a mantém aberta e, sempre que possível, a cutucam, nos machucando onde mais dói (não, não é lá em baixo), por dentro.

Certo, decidi que se um dia eu vou me abrir pra falar alguma coisa sobre isso, vai ser por um blog que, possivelmente, pessoas que eu não conheço ou não tenho afinidade nenhuma lêem.

Eu, como todos, tenho meus fantasmas... vou contar algum deles. Vou contar o que aconteceu e como eu lido com isso agora. Não citarei nomes, até pela possível infelicidade de um deles acabar lendo essa coisa (meus fantasmas sólidos, do mundo real). Só espero que se algum deles ler e se lembrar do ocorrido... saiba que não guardo mágoas e espero que eles também não guardem.

Quando eu tinha - o que? - uns... oito anos, talvez - ou menos ainda -, meus pais alugaram uma casa em Búzios com os pais desse garoto (Rafael, digamos, é um nome tão bom quanto qualquer outro)... Ele era quatro anos mais velho que eu e a gente vivia o tempo todo junto. Ele era o meu herói, meu exemplo, ele era "O Cara" pra mim.
Então... quem conhece Búzios sabe que de noite só se tem praticamente um lugar para ir: a Rua das Pedras. Fomos para lá, e encontramos os primos dele, um deles tinha a mesma idade de Rafael, e o outro era um ou dois anos mais velho. Eles chamaram a gente pra ir jogar mini-golfe, eu me empolguei, "oba! adoro mini-golfe" sempre fiquei perdido dentro de um campo de mini-golfe, doido de empolgação, aqueles decorativos e os obstáculos para se chegar ao buraco sempre me fascinaram, em especial os mini-moinhos, que unia os dois num só. Claro que disse que queria ir, mas Rafael me puxou para o lado e disse "não, não, não vamos não Breno, vai ser chato. Vamos no Laser Shot que vai ser mais legal". (*O Laser Shot é uma espécie de Paint Ball, mas com lasers, obviamente) "Mas vai ser legal o PrimodeRafaelnúmero1 e o PrimodeRafaelnúmero2 vão brincar com a gente" e ele insistiu em ir no Laser Shot, insistiu tanto e eu respeitava tanto ele que acabei cedendo, fomos no Laser Shot, esperamos numa fila imensa e entramos, jogamos... não gostei muito (aliás, acho que depois disso nunca mais fui no laser shot de Búzios haha). Quando saímos eu me empolguei de novo "vamos no mini-golfe agora?" "não, disse ele, agora eu to cansado vamos voltar pra casa" "mas e o mini-golfe???" "deixa pra lá, vamos pra casa" "ah... ok...". Estava desapontado, sempre gostei de mini-golfe, estava animadíssimo para jogar.
Mas fomos e quando entramos no carro e estávamos prontos para sair, Rafael correu pra fora e falou que ia embora com a NomedatiadeRafael. Ele me deixou sozinho, ele me enganou pra eu não brincar com os primos dele, imagino, ele me abandonou e eu... senti muito isso, uma tristeza profunda. Uma coisa é uma sacanagem de um amigo, outra é uma traição por parte de uma pessoa que você admira. Ele não era só meu amigo, era meu primo (foda-se que ele leia isso) e fomos criados juntos. Porra, ele era meu primo mais velho, era como um irmão pra mim e me deixou sozinho, abandonado. Fiquei calado no carro e quando chegamos na casa alugada eu chorei.

O mais engraçado é que eu realmente não lembrava da maior parte disso, foi minha mãe que me contou e conforme ela me contava, as cenas apareciam, vivi tudo isso de novo e, para vocês pode não parecer muito, mas para mim foi... esta foi minha primeira decepção. Em algum post eu disse que meu maior ponto fraco é confiar nas pessoas... e talvez seja isso mesmo, tive imensas decepções na minha vida... talvez vocês fiquem sabendo de mais algumas, mas tem certas coisas... que eu tenho que guardar para mim. Só meus amigos mais íntimos conhecem, outras nem mesmo eles conhecem. Essa, por acaso, nunca tinha compartilhado com nenhum amigo. E na verdade, não foi nem de perto a maior de todas do "Rafael"... o que meu primo já fez comigo psicológicamente falando, são coisas para se esquecer. Lembrei dessa... mas, tenho um repertório cheio. Hoje eu já superei esse - trauma? conflito? ferida? - problema. Talvez porque minha cota de decepções tenha atingido seu limite e eu finalmente aprendi a não admirar gente que conheço e convivo.

Este foi um dos muitos fantasmas que me perseguiam  e de vez em quando aparecem à beira da minha cama. E tenho certeza que vocês tem alguns parecidos... decepções são lugar-comum na vida das pessoas, talvez vocês entendam como me senti com isso, talvez não, de qualquer forma é bom desabafar, isso espanta os fantasmas, mesmo que apenas momentaneamente. Talvez seja hipocrisia falar que devemos superar nossos medos, nossos traumas, e que eles estão no passado, quando eu mesmo ainda trago muitos comigo. Mas posso dizer que eu tento, que eu estou aprendendo a ver eles como um modo de não repetir a mesma coisa, de não fazer com outra pessoa o que fizeram comigo, de não abrir esta ferida em alguém como abriram em mim. Estou vendo que os traumas não são assim tão assustadores quanto parecem. Afinal de contas, vale sempre lembrar que fantasmas não existem.

Então, meus queridos, foi isso... falei um pouco de mim e vou me arriscar novamente: Se vocês se sentirem à vontade para tocar no assunto, gostaria que relatassem algum fantasma seu, algo que os pertubem até hoje, que tira seu sono ou simplesmente te dá aquela sensação mareada, aquele enjôo chato que vem quando você pensa naquilo. Mas só o façam se vocês se sentirem realmente a vontade com isso.

3 comentários:

  1. Seu post está muito bom, parabéns!

    Parando pra pensar, também tenho certos fantasmas que carrego comigo desde a infância. Acreditar muito nas pessoas que conhecia, sempre foi um problema pra mim. Sempre acabavam me decepcionando, e até hoje é assim. Muitos problemas que tive não lembro, mas outros, nunca saem da minha cabeça. Passei por uma situação muito parecida com a sua, mas foi em relação a uma “amiga”, que também me enganava para não brincar com as amigas que tínhamos em comum. Quantas e quantas vezes já chorei por causa disso. Mas sabe, eu aprendi a lidar com certas pessoas e passei a “conhecer melhor” cada uma delas. E isso foi só uma das decepções que tive... acho que nem consigo contar todas elas.
    É isso aí, devemos superar nossos medos e nossos fantasmas.

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  2. Provavelmente mesmo anonimo muitos vão saber que fui eu que postei mas senti vontade de expor isso.

    Um dia em meio a um falso namoro que eu lutava para não admitir que já havia acabado eu pergunto para a minha namorada na época "mas vocês vão sair juntos e vão ficar não é?" e ela me respondeu " para ser sincera eu não sei, talvez sim." isso pode parecer pouco perto de traumas familiares ou sei la o que mas hoje em dia isso foi tampado por camadas de tecido sentimental morto, calos, mas algumas vezes ele queima dentro de mim e agora, melhor dizendo hoje, foi um dos momentos que isso me doeu.

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  3. n precisa ser familiar, meu querido anonimo... só um trauma mesmo... obrigado por partilhar conosco :)

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