terça-feira, 20 de julho de 2010

Identidade

ALERTA DE INFORMALIDADE!



Esta postagem contém um conteúdo ALTAMENTE pessoal... e a minha pessoa vai estar sendo retratada aqui, ou seja, veremos palavrões, gírias, opiniões, pausas chatas e mais palavrões... Até porque minha palavra preferida é Porra! Este está tranquilo de palavrões, mas virão outros com um conteúdo mais... “palavronesco”. Se você é um puritano, não leia, ou tape os olhos quando ver as letras p-o-r juntas.




 

Talvez a coisa mais confusa em relação ao indivíduo seja sua identidade... e quantas identidades diferentes podemos ter? identidade ideológica, identidade musical, identidade sexual... e isso tudo só para tentar descrever uma única pessoa (e sempre sem sucesso). Há não muito tempo atrás (umas duas semanas, mais ou menos), por exemplo, eu usava brincos, duas argolas... decidi então tirá-los... me senti bem fazendo isso, me senti renovado, como se mudasse de pele. É... talvez possa usar essa analogia... uma bobagem como tirar os brincos me fez pensar diferente e ver o mundo diferente... ora, pense o que quiser, eu não me importo, mas é o que houve. E, ouvindo Caetano agora, eu percebo uma mudança radical na minha identidade musical... Quando menor, eu dizia não gostar de música alguma... um absurdo, eu sei, mas entendam minha mentalidade infantil de querer ser do contra. Além do mais, o que me rodeava era funk (sim, quando criança, meus amigos ouviam funk) e pop americano... e, honestamente, dessas coisas até hoje eu não gosto muito (com exceções). Então ouvi uma música na escola, eu estudava no colégio Marly Cury na época, é uma escolinha da minha cidade que vai até a quarta série. Lá, fazíamos aula de música, certo, e tocávamos flauta doce, ora, éramos crianças, mas era bonitinho. Então, uma das músicas que aprendemos a tocar na flauta doce (que eu não sei mais tocar, mas que na época não era tão ruim) foi a 9ª Sinfonia em Ré Menor do Beethoven... Eu fiquei simplesmente maravilhado. Era uma música simples, mas complexa, era linda. Ainda é. Música não morre! Depois desta, eu fui introduzido pelo meu pai a um mundo mais vasto de música... Conheci, conheci não, pois não sabia dos nomes, mas ouvi Bach, Chopin, Mozart... me dizia então um amante do clássico. Se alguém perguntava que tipo de música eu gostava, eu dizia: "Clássica!". Por algum motivo as pessoas riam... mas então, o tempo passou e eu não. Permanecia na mesma. Então meu então amigo, Alan (o que será que deu dele, aliás? Não o vejo a mais de ano) cantou o refrão de "Pais e Filhos". Mas que melodia, mas que letra... Alan, que música é essa? Lembro que ele respondeu que era do Gabriel, o Pensador. Eu fiquei com aquela música, aquele refrão na cabeça






"É preciso amar as pessoas"






mas não conseguia achar de jeito nenhum.






"como se não houvesse amanhã"






Por acaso, minha mãe...






"Por que se você parar"






...estava ouvindo no carro e...






"pra pensar"






...eu dei um salto ao ouvi-lo.






"na verdade"






Era ela! Era a música!!






"não há"






Mãe! Que música é essa?? Quem canta?? É do Renato Russo, filho, Pais e Filhos. Pais e Filhos... essa foi minha segunda música. Passei a virar um aficionado por Legião Urbana e Renato Russo, CDs, DVDs, fotos, desenhos das fotos, contos. Renato Russo e sua música se tornaram minha inspiração, ouvia Legião Urbana depois de acordar e antes de dormir, antes do almoço e depois do jantar. Ah, então veio a Cássia Eller, o Herbert Vianna e a vontade de ter aula de violão. Com o violão eu comecei a conhecer novos estilos de música, rock, metal, samba e finalmente a bossa nova. A bossa nova me encantou musicalmente, com suas progressões complexas, seus pentacordes, seus Caetanos, Gils e Chicos. E o Zeca Baleiro, Lenine, Chico César e Paulinho Moska. Ah, as letras, ah o som, os instrumentos, os metais, as cordas, a percussão... Paulo César Pinheiro, Noel Rosa, Paulinho da Viola... E Gabriel, o Pensador, sempre pensante, sempre Gabriel. Não possuo mais identidade musical... ela se perdeu com os anos, se é que algum dia a possuí. Ouço o que vier, não sou um roqueiro, ou um sambista, ouço ambos. Minha identidade musical ou é inexistente ou tão grande que abrange um mundo inteiro da música, que é infinito.






Depois de contar este fragmento da história da minha vida, me sinto confortável para prosseguir...






Faz uns dias, estava eu almoçando com dois amigos meus e, devo admitir, eu estava enchendo o saco deles. O que não é uma coisa muito costumeira minha, não sou eu... meu amigo reclamou de mim, o que só serviu para eu encher ainda mais o saco dele. Mais tarde, quando eu estava sozinho e eles já tinham ido para as respectivas casas, eu pensava um pouco sobre o ocorrido... é... eu estava um saco, ele tinha razão. Mas não me via muito na pessoa enchendo o saco deles, assim como eu não me vi mais nos brincos que eu tirei, assim como eu me vi no brinco quando o botei e depois no outro. Assim como eu me vi nas músicas do Renato Russo, assim como eu não me vi mais no meu antigo colégio... Então, pensei, quem sou eu? Afinal, quem porra sou eu? Eu não sou o mesmo que antes era, mas, quem sabe, vou voltar a ser, quem sabe não ponho os brincos de novo? Eu sou o Breno, tá, mas quem é o Breno? Passei do lado de uma capelinha anglicana, que estava em culto. Por qualquer motivo que seja, senti uma necessidade de entrar na capela e ouvir a missa... ou parte dela. Estava cheia. Arrumei um canto e me sentei, ouvindo, cabeça baixa, observando os azulejos vermelhos - como estavam gastos - e a poeira - quanta gente já não tinha passado por estes azulejos - enquanto o padre falava... e eu ouvia. Não sabia o que estava fazendo ali... Não acreditava em Deus. Não? Não! E se estivesse errado? Deus não fazia sentido! O brinco não faz sentido, VOCÊ não faz sentido. Eu não faço sentido... O padre cantava e comungava, eu debatia comigo mesmo. Comecei a me perder, perder minha identidade, comecei a me sentir só, incerto, inseguro, perdido. Me levantei, olhei para o padre, olhei para fora, saí. Meu olhar vazio percorreu a rua, os pedestres, os carros... o garoto pedindo dinheiro (eu me importo com ele? me importo mesmo? eu me importo com qualquer um? me importo comigo mesmo?), não me importei. Fui para a casa do meu avô - vazia -, deitei no sofá, olhei para o teto da sala, o lustre. Levantei. Peguei um guaraná. Estava ruim. Eu não gosto de guaraná? Eu gosto de guaraná! EU GOSTO! Mas não gostava. Insisti em beber o refrigerante todo, contra minha vontade - Negava quem eu era? O espelho que cobre a parede da sala olhou para mim. Quem é você, ele disse. Não sei, ele respondeu. Ele segurava uma lata de guaraná antártica, mas não parecia satisfeito com ela. O que você quer, eu perguntei. Não sei, eu respondi. Não sei, ele respondeu. Deitei de novo, exausto. Dormi desta vez, sem sonhos.






Meu celular me acordou, hora de ir para a minha – minha? – casa... Casa... tudo familiar e diferente. Falei com um amigo meu pelo MSN, o Silas Couto, que faz faculdade de psicologia. Expliquei para ele minha... perda. Não consigo, Silas, disse a ele, saber quem eu sou; o que quero, do que gosto, com o que me importo... não sei de nada. Não sei se Deus existe, não sei se EU existo. Silas me aconselhou deitar e fechar os olhos e prestar atenção no que vem a mente... tentei... não funcionou. Quem sou eu e onde posso me encontrar? No dia seguinte fui para a escola. Encontrei meus amigos... Parece bobeira, mas acho que me encontrei também. Conversando com pessoas que eu gosto, eu acho que realmente me encontrei.






Talvez.






Não sei ainda o que quero, mas sei do que eu gosto agora, o que provavelmente vai mudar no futuro. O ser humano é inconstante. A formação da identidade não é fixa, nossa essência pode permanecer algo mais ou menos parecido, mas a identidade variará, vamos hoje gostar de cerveja e amanhã de gin tônica, hoje de gatos amanhã de cavalos, podemos mudar de amigos, mudar de escola, mudar de gosto musical, mudar de estilo de se vestir, podemos, enfim, mudar toda a nossa personalidade, mas o que não vai mudar é o nosso amor. Tenho amor pela música e por muitas pessoas ao meu redor - talvez este seja meu ponto forte e fraco, aliás -, tenho amor por tantas coisas e estas estão ainda comigo. Mudei, mas permaneci. E mudarei muitas vezes, acrescentarei, retirarei, me transformarei...


Como disse Raulzito, somos uma Metamorfose Ambulante, e somos mesmo. Não podemos nos segurar muito em lugar nenhum, nem sermos muito saudosistas, pois o mundo todo muda e você também... negar isto é negar a si mesmo. E não tem maior dor para a alma do que negar a si mesmo. Eu mudei quando ouvi Beethoven pela primeira vez e quando li Jostein Gaarder. Mudei quando meu amigo me disse palavras bobas, numa situação boba, mudei quando meu cachorro morreu, mudei quando minha avó se foi, quando mudei de escola, quando mudei de série, eu já mudei tantas vezes... algumas foram naturais e algumas foram muito dolorosas. A inconstância da identidade é o que faz nossa mente evoluir, é o que torna a vida interessante, a redescoberta de si mesmo, eu gosto de guaraná, aliás, e, quem sabe, volte a usar brinco. Não sei o que eu mesmo me reservo para o futuro, mas que seja “eu”.


Eu tenho tanto para falar sobre esse assunto... mas por ora, vamos deixar como está. Abraços.



Vou me arriscar agora, meus queridos. Gostaria que vocês compartilhassem, se estiverem dispostos, uma situação, um momento da sua vida que o fez mudar, o fez diferente. Comentem!





7 comentários:

  1. Primeiramente, queria de certa forma te dar os parabéns por esse post, que aliás como a maioria dos que você já fez, me fizeram pensar e refletir sobre muitas coisas.
    E agora respondendo ao seu pedido para compartilhar tal situação em que me senti diferente, mudado... Vamos lá, vai parecer(ou até pode ser) um pouco clichê pra quem me conhece e até estranho pra quem não conhece, mas não posso de deixar de comentar que com certeza, mudei bastante( e para melhor!) depois que ouvi pela primeira vez,que realmente "conheci", "interpretei", e me aprofundei em não só sua música, mas na pessoa, seus ideais, suas filosofias... de ninguém mais ninguém menos que, Michael J. Jackson.
    (E não é que aquele almoço, deu em alguma coisa? :D)

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  2. Vamos lá D:

    Caraa, acho que se eu parasse para pensar nas pessoas que eu ja gostei, eu teria uma crise de identidade D:
    Poxaaa, eu sou muito cauteloso em relação á relações, e pãs. Mas eu não me aguento em um namoro, eles nunca duram D: Acho que o motivo é o fato "d-eu" estar mudando e nada me agrada, e eu sei muito bem que o motivo é eu mesmo, ou talvez não... Mas não culpo ninguém, afinal, todos temos o direito de mudar, piiff. <3 desabafei XD

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  3. Uma coisa que estou a tempos refletindo é a existência da personalidade. Até que ponto existe uma personalidade formada? Muitas pessoas falam sobre personalidade forte e ao meu ver pessoas com personalidades fortes não passam de pessoas imutáveis, minha personalidade é extremamente fraca, se não inexistente. Acho que não tenho personalidade, sou influenciado pelo meio, pelo mundo, pela música, por textos, por tudo! Afinal a mutabilidade vem dai.

    Pelo menos eu acho... Aberto a discussões.

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  4. no caso da personalidade forte é aquela que não se deixa levar pelos gostos da maioria, ela persegue o que ela gosta, se este coincidir com a maioria, ok, se não, ok tambem. já a mutabilidade é inerente ao ser humano, não existe ser humano constante, existe ser humano que evita mudar... sem sucesso, claro. a negação da mutabilidade, é a negação de si mesmo em aspectos diferentes, que causa grande conflito interno. claro que tal negação resultará em atos (que eu considero) masoquistas, o implante de botox até dizer chega, cirurgias plasticas, ou mesmo não-físicos, como a compra de um carro esporte aos 60 anos ou sei lá... algo parecido... o mais importante é nos aceitarmos, com nossas constancias e inconstancias e nos adaptarmos a nós mesmos e ao resto da sociedade, sempre nos respeitando.

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  5. po cara,no inico do texto eu perdi um pouco a vontade de ler visto que vc relatou algo pessoal,e eu nao gosto de coisas pessoais e sim de consensos gerais pois assim eu posso refletir,debater ou concordar,a letra azul dificultou a leitura,se puder mudar agradeco,palavroes sao termos de pessoas que nao tem nada a acresentar,ao contrario de voce que tem potencial.Nao posso julgar seu texto pois como voce mesmo descreveu tem carater pessoal portanto varia de pessoa em pessoa,enfim esse conflito e personalidade e de identidade sempre foi muito comum e sempre sera muito comum para o homem,ja tive isso porem como sou religioso logo acabou,voce que segue a DOUTRINA dos ateu,eu lhe recomendo livros de filosofia e se tiver tempo leia O vendedor de sonhos,te digo que eu li e achei exepcinalmente bom(AO CONTRARIO DE CREPUSCULO).Obs nao repare nos erros de portugues desse comentario pois te expliquei estou com problemas no mesmo.

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  6. Uma coisa na qual acredito é que grandes perdas geram grandes mudanças. É no momento em que reparamos que nosso mundo não é mais o confortavel universo que criamos e nos sentimos desamparados em nosso próprio cotidiano percebemos então a necessidade de mudar, ou não, mas a mudança ocorre de forma consciente ou inconsciente seja essa perda amorosa, financeira, familiar ou qualquer outra porem a grande verdade é que, torno a repetir, grandes perdas geram grandes mudanças.
    "Os momentos que sucedem uma tempestade são de intensa calmaria."

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  7. Taí, gostei de conhecer um pouco mais do Breno e dos seus questionamentos, alguns que eu nunca tinha parado pra pensar, outros que sinto já ter passado... Fiquei até com vontade de fazer um blog de novo :P Bom.. Te desejo boa sorte aí com ele, e saiba que ganhou uma leitora.

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