domingo, 25 de julho de 2010

Medo




Venho querendo escrever esta postagem faz um tempo... esta noite eu resolvi fazê-la afinal. Procurei imagens terríveis na internet, decapitações, pessoas desmembradas, etc... não consegui invocar medo... Então ouvi músicas pesadas, Marilyn Manson, hard metal, não deu certo também. E, talvez seja irônico eu estar ouvindo Beautiful Day, do U2, enquanto escrevo esta postagem... Irônico ou não eu percebi que não é o fator externo que invoca o medo, não é o lugar onde você está, nem a iluminação, nem a música que está ouvindo. É a mente. E a mente invocará o medo mesmo se você estiver ouvindo Beautiful Day, comendo biscoitos de manteiga embaixo de um lustre bem iluminado e com o laptop apoiado numa toalha de mesa de flores. É o caso.


Paro de respirar, o ar vem com dificuldade, minha garganta parece fechada
                                                                                                                
Meu coração
                    pára de bater por um instante quase imperceptível... e então martela sangue para meu corpo, toneladas de adrenalina
                                                                                                                                          
Não consigo
                   me mexer... nem quero. Apenas fico lá, meu corpo recebendo informação nenhuma de um cérebro em choque.


Um segundo? Menos que isso.


Corro! Corro para onde? Não importa. Não importa para onde, só preciso sair daqui. Qualquer lugar é melhor que aqui, preciso sair daqui. PRECISO SAIR DAQUI!


Desespero


Não olho para trás! Não quero! Não quero olhar! Mas olho! Está lá! Está lá! Não está...


Não há nada.


O que houve?


Nada. Nada? Nada...




(medo de cachorros medo de morrer)

O que é o medo? Medo de aranhas, medo de morcegos, medo de ladrões, medo de escola, medo de compromisso, medo de falhar, medo de tentar, medo de mudar, medo de ser julgado, medo de ser reprovado, medo de ser excluído, medo de amar, medo de viver, medo de morrer. Medo do palpável, medo do abstrato. Medo de outros, medo de si mesmo. A definição de medo pelo dicionário é, e cito:


"medo


subst m medo ['medu] sentimento de inquietação perante eventual perigo"

Mas que perigo uma barata pode representar? E que tipo de perigo o escuro pode ser? Discordo do Pai dos Burros neste aspecto. O medo não está perante o perigo, está perante a insegurança. Baratas me trazem grande insegurança, não me sinto capaz perto delas, tenho medo de baratas. Mas sei que elas não me representam perigo. Tanto que é só pisar nelas que morrem. O escuro me deixa inseguro, não sei para onde vou, não sei onde estou, quem está por perto... mas sei que o escuro não vai me morder, nem algo do tipo... eu só preciso acender as luzes e... opa... está claro de novo. Meu medo está a um interruptor de distância.

(medo de altura medo de público medo de morrer)

Meu medo está a um interruptor de distância. Meu interruptor está na minha mente. Como alcançar? Não o vejo! Não sei onde está! Como alcançar? Como alcançar? Quero apertar o interruptor! Quero acender a luz! Não o vejo! Está escuro demais!

(medo de gente medo de germes medo de filmes de terror medo de morrer medo de morrer medo de morrer medo de morrer medo de morrer medo de morrer medo de morrer medo de morrer medo de morrer medo de morrer medo de morrer medo de galinhas)

Onde está o medo? O medo está em mim! Quero lutar com ele! Lutar com o medo! Lutar comigo mesmo? Lutar com minha parte com medo! Tenho medo! Não quero lutar! Tenho medo do medo! (tenho medo sinto medo muito medo muito medo medo do medo medo do medo do medo)

Medo

E por mais que este - sentimento? - seja tão pessoal, tão abstrato e tão maleável, por mais que cada medo esteja na mente de cada um, existe um medo em comum em todos (ou quase todos) os seres humanos. Talvez seja instintivo, talvez não... não sei, mesmo. E o que o medo da morte acaba gerando como consequencia? As mais diversas filosofias, teologias e etc, para tentar amenizar essa insegurança que a morte nos traz, talvez. Sentimos insegurança diante do desconhecido, diante da impotência, do "não há nada a fazer, não sei nem o que pensar sobre isso". E o que é mais desconhecido e mais "brochante" do que o fim da vida, o fim de tudo o que nos é comum, o fim do seu cachorro, o fim do seu pé de tangerina, o fim das camisetas de coorporações e das malditas estúpidas terça-feiras, o fim da sua casa, do chão que te mantém firme, do céu que te cobre, do ar que te mantém vivo, o fim da existência de tudo, inclusive da sua própria? O total desconhecido, uma realidade fora de nossa realidade. A morte. Medo da morte. Ora, todos temos não? Ninguém sabe com certeza o que acontece depois de viver, sabe? E por mais que se apegue numa filosofia que diga "Ei, calma, colega, você vai ficar bem depois de morrer, porque isto isto e aquilo vão acontecer! É sério!", ninguém confia 100% nela. A prova disso é que o apego à vida é imenso por parte de todas as pessoas (exceto, talvez, dos homens-bomba). Eu não quero morrer, cara! Nem você que está lendo isso, se é que está mesmo! Não queremos morrer porque não conhecemos o depois, conhecemos o agora e, cara, o que diabos vem depois? E se formos para um lugar pior? E se simplesmente deixarmos de existir? Sim, agora estou ouvindo Pensando Em Você, do Paulinho Moska... 

O MEDO de não existir é engraçado... medo de não existir? Mas ora, eu não vou estar aqui para sofrer com isso, vou? Bolas, eu não quero morrer, não me entendam mal, morro de medo de morrer, mas tenho ainda mais medo de viver para ver meus proximos morrerem, tenho mais medo de viver sozinho. Tenho mais medo de ser solitário do que de simplesmente não ser. Afinal, o não ser faz parte do ser, a morte faz parte da vida e é, na minha opinião, justamente sua inevitabilidade que torna a vida tão linda e tão única. Mas por mais bela e poética que a morte seja, ninguém a quer por perto, principalmente quando se trata da própria morte. TENHO MEDO DE MORRER!!!! (seja lá o que isso signifique)

(medo de ficar sozinho medo de deus medo do inferno medo de morrer medo de texugo medo de morrer medo de guaxinins talvez medo de morrer medo de ser cuspido por uma lhama medo de ser a morsa [eu sou a morsa! bo'bo'b'trabaaaalho!] medo de morrer medo de sonhar medo de ficar sozinho medo de morrer medo de ser ferido medo de morrer eu sou a morsa e tenho medo de morrer)

O que acontece então? Acontece o que você vê! Acontece pessoas com medo de sair de casa, com medo de pegar um ônibus. Acontece sistemas de segurança cada vez mais reforçados e condomínios com tudo dentro (supermercados, padarias, clubes, assim é bem mais seguro, é sim, não quero correr riscos, não, é muito perigoso lá fora, quero ficar aqui dentro). Acontece guerras frias (malditos vermelhos comedores de criancinha) e quentes (vamos pegá-los, vamos pegar os terroristas! Um ataque terrorista está marcado para... se você vir um terrorista... o terror, os terroristas, estamos travando uma guerra contra o terror). Acontece gente atravessando a rua sem motivos lógicos, acontece gente comprando armas pra se defender, acontece jovens achando essas armas, acontece jovens matando jovens no próprio colégio, acontece mais medo, acontece mais terror, acontece mais armas, acontece mais jovens, acontece mais mortes, acontece mais medo ainda, acontece o afastamento das pessoas, a suspeita do vizinhos, qualquer um pode ter um daqueles filhos malucos que matam os colegas na escola!! Acontece o ódio e o individualismo, acontece mais terror, acontece mais mortes.
                                                   Espera...
O medo da morte gera morte? Putz, isso é uma puta ironia. Não é ENGRAÇADÍSSIMO???

Não, não é nem um pouco engraçado. Nem um pouco. Ver gente morrer por medo não é engraçado, ver gente sofrer por medo não é engraçado, ver gente com medo não é engraçado. Nem de longe.

Medos são comuns ao ser humano, (Tenho medo de ter medo...) e não é difícil para alguém usar isso como arma, e ainda fomentar esse medo pela mídia (oh ela aí), ou por qualquer outro meio disponível. Quer dicas? Mande policiais armados para as ruas desnecessariamente! Deixe os traficantes soltos - claro que levantando um tiroteio de vez em quando pra não esfriar -! Deixe esses moleques cheirarem o que quiserem, problema é deles se eles queimarem um índio no meio da rua! Garanto que se você seguir estas dicas, ganhará milhões em aparelhagem de segurança (insulfilm, spray de pimenta, câmeras, sensores de movimento e muitas, muitas armas se você estiver no lugar certo - é meu direito ter armas! está na primeira ementa!). Mas como esmola demais atés santo desconfia, você ganhará um novo medo.

Medo das pessoas perceberem o que está acontecendo, medo de virem que você está usando seus medos, seus - sentimentos? traumas? - terrores mais íntimos contra elas para ganhar dinheiro. Medo de ser descoberto e de perder tudo e perder, talvez, algo que, no final, valha mais que todo o dinheiro do mundo (se é que tal coisa existe...)... sua vida. Assim como eles perderam as deles - trancafiados; mortos; assassinados.

Quem sabe podemos parar de correr agora e olhar para trás? Será que veremos que não foi nada? nada? nada... Antes que o nada de fato chegue.

(Terminei, ouvindo Somewhere Over The Rainbow)

3 comentários:

  1. quanto mais vivo o vermelho, mais louca a coisa vai ficando... ;P

    ResponderExcluir
  2. O mais irônico de tudo é a forma como um dos principais mecanismos de auto-proteção, o medo, através das mudanças sofridas pelo próprio ser humano se voltou contra ele como uma força destrutiva, ou pior, auto-destrutiva.

    A parte do texto em que você pergunta se estamos mesmo lendo o texto gerou estalo em mim para um futuro post (digo futuro para quando tirar o gesso).

    ResponderExcluir
  3. sim, não é irônico e terrivelmente cômico?

    ResponderExcluir