domingo, 3 de junho de 2012

Vi um acidente

Que fascínio/terror é esse que a morte nos provoca? Eu, pelo menos, tenho um medo absoluto de morrer. Não sei se o medo é da morte em si ou se é de deixar de viver. Medo do desconhecido? Medo da impotência perante a inevitabilidade do fim? Eu não sei, eu não sei... Mas que é isso que arrasta o olhar? Que nos força a encarar (e nos encarar como seres finitos, no processo) sempre que possível? O que nos faz olhar dentro do caixão, caixão de Pandora? O que nos faz olhar um acidente? Uma poça de sangue (vermelho, como o meu, como o meu) na rua, um braço decepado, a carne morta, sem vida, sem expressão, encarando-nos apática como se dissesse que não há nada a ser dito. Nada... a morte me assusta talvez pelo seu nada implícito... ser pagão às vezes tem suas terríveis desvantagens... preencher o nada seria um imenso conforto para meu espírito (este simbólico), mas não tenho essa capacidade. Não consigo me forçar a acreditar, não consigo. Não consigo me forçar a aceitar a minha própria morte ou que seja... A morte me revolta e me admira. Não há como fugir, não há como negar, mas também não posso ficar parado e deixar ser engolido por ela. Fujo enquanto posso e não há problema nenhum nisso, não há problema nenhum em uma luta inútil, enquanto a luta dure. Luto, mas às vezes me vêm a lembrança da inevitável derrota. Pesa, mas é necessário... É? É... Quando a morte fica clara no horizonte, a vida se torna mais saborosa, cada momento é único e jamais será igual, a luta se torna mais árdua e a vontade de viver é... pungente. Afiada. Absoluta. Apesar disso, sinto ódio de meus olhos que foram incapazes de desviar do pequeno corpo embalsamado por cima daquela poça de sangue, lagoa, rio, mar. No momento me senti tragado para suas profundezas até tão pouco tempo tão muito vivas.

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