segunda-feira, 11 de junho de 2012

Sentei-me num desses bancos de rua, virado para o mar. O banco estava vazio. Estava vazio. Combinava comigo. Era verde. verde. Precisava que fosse preto. Não era. Sentei-me para apreciar o pôr do sol... Mas as nuvens cinzas impediam que as luzes laranjas me alcançassem. Tremíamos pela ansiedade do encontro, encontro impossível, mas inadiável. Que nunca mais fosse, então. Que mentira... dia seguinte teríamos outra chance. E a luz me inundaria o vazio escuro vácuo que me pertencia (ou... a que eu pertencia?), preenchendo e dando forma àqueles escondidos nas sombras concretas da solidão... A luz me acompanharia, me faria seu amigo, seu confidente e eu faria dela meu calor. Mas não hoje. Não... hoje as nuvens eram cinzas e densas e impediam nosso encontro. Cinzas correntes de vapor d'água... que triste. Cocei a barba. As ondas batiam com força nas pedras e as gotículas que fugiam da maré alta se misturavam com a chuva fina a cutucar meu rosto. O vento gelado que sussurrava aos meus ouvidos tirava o calor de meu nariz. Esfreguei as mãos, senti minha pele pela minha pele. Tirei os sapatos, a textura da calçada, fria e molhada, me fazia sentir mais firmeza no chão que pisava. Sólido, mas, ao mesmo tempo, tão volátil. Volátil. Esta era a palavra que me definiria. Pronto para a explosão, era um átomo pesado demais, errado demais, anômico. Que seriam catastróficas as consequências eu sabia, que seriam terrivelmente destrutivas eu tinha certeza, que afetariam algo além de mim mesmo, isso era duvidável. Perco-me só em minha cosmogonia, era eu sempre o único personagem, mito, lenda, mártir, demônio... E eram meus os desejos, eram meus os medos, as fúrias e as luxúrias, as castas, as potentes impotências (tão, tão potentes). Ah... a derradeira solidão do egocentrismo... viver num universo cosmogônico vazio. A ilusão do eu... Mas você há de vir. Sim, e há de ser externa. A luz que irá preencher este universo frio, que irá resgatar este ser multifacetado cheio de sombras disformes a o seguir. O reconhecimento do que está ausente em mim! O Exo! A Alteridade! O Outro! Nunca antes me estenderam a mão e eu aceitei, nunca antes reconheci outra ajuda que não fosse de mim mesmo, eu, só, tolo, afundado em meu profundo e lamacento mar mitológico. Escuro, como eu. Precisava que o banco fosse preto! Precisava pois esta é a cor que absorve tudo, este sou eu por dentro, vórtex autodestrutivo. Ao passo que por fora sou branco, tudo é refletido, todas as cores. Formo, desta forma, uma prisão, encapsulo-me em mim mesmo. Precisava que o banco fosse preto pois assim que sobrevivo, vejo-me no mundo, assimilação besta, eu sei, mas que posso fazer? Eu nada. Só a luz poderá... poderá me ajudar a entender-me, a conhecer minhas ausências e formas e momentos. Mas não agora, não hoje. Hoje estamos separados por esta terrível parede cinza, nunca antes tão veementemente sólida. Temo pelos aviões que tentarem atravessá-la, quantas vítimas não serão feitas por sua cruel solidez...

Levanto-me, ainda descalço, os sapatos na mão, e vou embora.

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