sábado, 12 de maio de 2012

Poesia e Revolução (Parte 1)

Diz Henry Miller em seu livro "A Hora dos Assassinos (Um estudo sobre Rimbaud)":

"O lugar da renovação é o coração, e é nele que o poeta deve ancorar."

Como foi prazeroso ler esta frase... e como foi complementar à minha visão de mundo. 

Henry Miller classifica "poeta" como "todos os que vivem pelo espírito e pela imaginação". O que é esse incrível poder que têm os poetas de conseguir mexer com nossos sentimentos mais íntimos, nossos anseios mais profundos, nossas inquietações mais secretas... esse poder de fazer com que nos encontremos em seus textos. O se expôr de um é o se encontrar do outro. Quem um dia diria que palavras pudessem ter tamanha potência. De fazer chorar a acalmar o coração. E não me limito agora ao texto escrito, falo de toda e qualquer manifestação de arte, qualquer forma poética que toque os sentimentos humanos profundamente. Pois, como diz Miller, o espírito é a ferramenta do poeta e sua função é a de emocionar. Para isso, diz Miller, ele precisa ter uma relação muito forte com os homens e mulheres. Quão imenso não é o poder deste ser que, mais que qualquer outra coisa, é muito humano? A mente é seu laboratório, o coração é seu domínio.

A renovação está no coração, diz Miller. Claro que está, sempre esteve. A renovação dos ideais, do ser humano como indivíduo e como ser social, dos valores e dos amores. A renovação, a revolução do ser, parte de dentro para fora e nunca o inverso. Uma revolução com valores impostos está fadada ao fracasso ou ao genocídio. Por outro lado, a revolução abraçada pelo coração terá mais força que qualquer resistência. A paixão é o mais poderoso motor da história da humanidade.

Não foram poesias os ideais libertários de Locke? Ou os sentimentos de igualdade de Marx? Muito além da teoria política, da filosofia e da ciência, a poesia, o que tocou os corações, foi o que levou tais ideias a transcenderem o papel e a abstração e a se tornarem paradigmas da vida humana em comunidade. A revolução em sua forma econômica, política, religiosa, ou seja, institucional de uma forma geral, começa na revolução mais íntima, a pessoal, de valores, de ideias, de conceitos. Intimista e quente, a real revolução deve ser humana e não mecanizada. E esse é o papel do poeta, provocar revoluções, pessoais a princípio, abrangentes em seguida, por um processo de expansão do "toque" do poeta. A renovação da alma é também a do corpo e da mente e a estagnação apodrece. O dever do poeta é ser aquela pedra jogada na superfície calma de um lago; que as ondas que se propagam, cresçam e tomem toda a extensão deste. O dever do poeta é identificar o suplício e a súplica, é enxergar as necessidades e carências dos homens e mulheres. Poesia é, ao mesmo tempo, a síntese de um Zeitgeist e o questionamento do mesmo, é cutucar o coração com vara curta. Muito mais que a mais-valia, é o desejo de justiça. Muito mais que o livre-comércio, é a necessidade de expressão. 

Poesia é o cerne da revolução, o estopim da mudança, o anseio do coração. É humana, muito humana, em seu sentido mais verdadeiro.

2 comentários:

  1. Achava que não lembrava mais dessa nossa discussão...

    A poesia é atemporal, em todas as eras, em todos os tempos ela terá esse poder de revolucionar de dentro para fora. Mas pra isso ela precisa de espaço... E os nossos anos de chumbo a privaram de espaço na sociedade e os que tinham esse contato eram os subversivos, os terroristas. Por isso, eu entrei na questão que a luta armada também foi importantíssima! Afinal, uma complementa a outra. Até porque nossos militantes eram, principalmente, tocados por essa poesia que faz revolução. Eles lutavam pelo seu espaço, sua livre expressão e assim poder tocar muitos outros.

    Você faz o seu papel nisso, Breno! haha

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  2. o que foi feito foi a imposição desse toque poético. é impossível forçar o amor, ana... é por isso que a revolução pretendida não deu certo, nem nunca poderia. aqueles que eles diziam defender eram contra eles... imagino o quanto de frustração eles não sentiram ao perceber isso. enfim, não vou entrar no mérito dessa discussão agora.

    O meu papel? Se tá dizendo que sou poeta, longe de eu me considerar um hahaha. É função de poucos, certamente não me enquadro na categoria.

    ao falar que o amor não pode ser forçado estou desconsiderando a síndrome de estocolmo hahaha, aliás, o Horácio tem um texto que exemplifica isso. Depois vejam, meus leitores fictícios, o blog dele http://algumhoracio.blogspot.com.br/

    * O leitor não compreendeu que isto é uma crítica à lógica científica, pois quando eu digo que a revolução se faz na poesia, estou desconsiderando as suas bases de sustentação teóricas, por meio argumentação científica. Nunca alguém aderirá a um movimento revolucionário por ser lógico e isso é inquestionável. É preciso que o leitor entenda isso antes de prosseguirmos para a parte 2 do texto.

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