sexta-feira, 1 de abril de 2011

De mãos dadas no escorrega

Eu só me sentei em frente ao notebook ligado e fiquei lá. Fiquei lá. Não que eu tivesse mais alguma coisa pra fazer, não é isso. Eu só... sentia... que chegaria a qualquer momento... Fazia tanto tempo que ela não vinha...

Fugira de casa.

Mas já o fez antes, o fazia constantemente e sempre voltava, nenhuma vez sequer deixou de cumprir minhas expectativas... Logo, logo ela estaria aqui. Era só esperar. Esperar... Esperar. Esperar. Esperar, esperar, esperar, esperar esperar esperar esperar esperaresperaresperaresperaresperar

Sorvi o café que não me lembrava de ter feito e traguei o cigarro que não me lembrava de ter acendido. Cocei o corpo nu que não me lembrava de ter despido e enxuguei as lágrimas que não me lembrava de ter chorado. Seriam elas lágrimas de cansaço? Seriam lágrimas de desespero? De ânsia? Da derradeira tristeza que, agora percebo, se abate sobre mim? Teria ela se pronunciado naquela hora? Não lembro. Não me lembro de muita coisa. Lembro que esperei. Esperei muito. Horas, dias, semanas, quem sabe. Mas ela não veio. Perdera-se? Fugira, definitivamente.

Verdade seja dita.

Ela me deixara, me abandonara.

Chorei seco.

Sentia falta de sua presença que nunca, mas sempre esteve. Era isso que eu - achava - que queria... Ainda será o mesmo? Ainda a quero longe? Ainda quero sua imagem (verdadeira ou não, não estamos aqui abrindo espaço para discussões) por perto? Você era minha companheira, minha sina, meu destino, meu pesar, minha alegria, minha carência, meu amor, meu passado, meu futuro, meu presente, minha solidão, minha inspiração.

(Era... não era?)

Por que fui te apagar?

Por que fui tão cego a ponto de te ver?

Por que fostes?

E mesmo agora, você me inspira... que terrível é o meu destino. Que grande merda é minha cabeça. Que grande merda é você.








[A angústia perdura] amarga]


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Ainda assim... De mãos dadas no escorrega... Fico feliz que seja esta a última lembrança que tenho de você.

5 comentários:

  1. Que grande merda somos nós.
    Homens.
    Incrível dissecação de si mesmo, tens minhas eternas palmas.

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  2. É, homens são um problema... Mas lembranças assombram homens e mulheres,o difícil, para ambos, é deixar, mesmo em momentos difíceis, as lembranças no passado. Sei lá, ver as lembranças como fotos que nos lembram o que passou, mas que mostram algo que não volta. É difícil, mas, geralmente, a vida não é fácil. Ser feliz por ter tido alguém especial no passado, também é uma forma de ser feliz. Marina H.

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  3. Acho que ter alguém especial no passado é a principal causa da infelicidade hehe.

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  4. Belo texto... bem intimista... Parodoxos... na dualidade do ser... ou a eterna discordância do "eu" com "eu"... se o passado terá sido bom... não deixa de ser... passado... e... "passou"... o tempo, este sim, não espera... Eh... "talvez" a sua reflexão esteja no caminho certo... vez que o hoje está, simplesmente... passando... e este é o "presente"... Então, escolhi o "Ainda assim... De mãos dadas no escorrega... Fico feliz que seja esta a última lembrança que tenho de você.". Abçs. *Luizah fh*

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  5. ...Eh ..."entendo"... "talvez" o comentário acima esteja no caminho "certo"... vez que amanhã já e hoizi... rassírmo pa "v6".

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