terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Enquanto vomitava o estômago em labaredas, o passado turvo lhe escapava à vista... O que fizera, o que desejara, o que perdera já não eram importantes - esta era a magia da bebida. E a magia daquela dor flamejante em suas entranhas que o impedia de pensar em outra coisa. O céu estrelado talvez o censurasse, a lua cheia como um holofote em seu rosto, expondo-o à vergonha do mundo. Cuspiu saliva e vômito em desprezo. Foda-se o mundo! O que ele me fez? O que devo a ele? Jogou para trás os cabelos sujos e limpou o bigode desgrenhado. Sentou-se novamente e serviu-se de mais uma dose. Olhar aquela garrafa de uísque... e lembrar das outras garrafas de uísque que já foram... e pensar nas que ainda viriam... A derradeira e triste monotonia de sua vida lhe invadiu o coração, lhe expulsando lágrimas dos olhos. O que fizera, o que desejara, o que perdera não eram importantes... Via sua vida numa dose de uísque e talvez alguma coisa mudasse quando aquelas lágrimas a diluíssem.

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