quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A vida de João



Era um homem já velho, de sabedoria exposta nas rugas finas e nos cabelos ralos e grisalhos. Segurava um ancinho junto ao seu corpo e seu rosto cansado era ornado por um denso cavanhaque. Usava um terno escuro e amarrotado e sentava-se numa pilha de feno enquanto fumava um longo cachimbo. Levantou-se na medida em que João se aproximava.

- Quem é você? - questionou João, o coração disparado.
- Sou Shamus Abnergeidt. Sou a personificação de tudo o que você considera puro e sábio e estou aqui para servir de instrumento ao autor para passar suas próprias visões de uma forma superior à ordinária.
João não pôde responder. Sentia que aquele senhor falava de coisas muito importantes e cultas e essa história toda... Impressionava-se com cada palavra e ouvia como um noviço acostumado às estranhas brincadeiras do padre, entendia que naquele estranho homem encontrava-se a imagem do autor de como um guia deveria ser.
- Agora, João, - continuou Shamus - teremos uma conversa profunda e pouco verossímil sobre todas as coisas que o autor deseja abordar no livro, exibindo seu majestoso intelecto.
- Não brinca...! - exclamou João, pasmo.
- Sim, sim, e como isto é um texto de blog, seremos extremamente concisos e vomitaremos tudo de uma vez. O que significa que eu provavelmente falarei durante muitos e muitos parágrafos e minhas falas terão várias aspas para indicar que continuo falando, enquanto você, João, apenas me interromperá para exclamações de compreensão profunda ou epifanias exaltadas. Agora, João, você está pronto para esta jornada pelo ego do autor? É bom estar, pois ele é imenso!
- Acho... acho que estou. - respondeu João, hesitante.
Shamus sorriu o tipo de sorriso amável que você espera de uma mãe, um avô, papai noel, ou qualquer dessas coisas que servem pra confortar e começou a falar e fazer relações pouco convencionais ou coerentes por vários parágrafos sobre o céu, o mar, o ar, as estrelas, a moral dos homens, o universo, e essas coisas todas que não vamos dar importância porque... porque francamente ninguém está interessado.
João concordava, espantadíssimo e entusiasmado com o tanto que ele, tábula rasa imbecil e ignorante, o perfeito aprendiz com zero senso crítico, aprendia do enooooorme conhecimento do autor. Que aliás, é brilhante, diga-se de passagem e obrigado.
Enfim, não tem muito mais para falar por aqui, fica então o testemunho de como a vida de João mudou... a partir daí ele percebeu o mundo diferente e blá blá blá, essa coisa toda. Depois ele morreu, porque todo conto meu que se preze tem gente morrendo, especialmente protagonista. E fim.

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