terça-feira, 27 de agosto de 2013

Se essa rua, se essa rua fosse minha... eu mandava, eu mandava ladrilhar...



   Chorava protegida pelo anonimato, refazendo novamente a cena que aquele palco da miséria humana e da solidão conhecia tão bem. As pessoas olhavam-na com o julgamento de um padre e a compaixão de uma irmã mais velha, que se reconhecia em sua dor, tão familiar. É contraditório, eu sei, mas assim as pessoas são. Não ousaram interrompê-la em momento algum.

   A rua era apenas sua e de sua dor.

   Essa, por sinal, já fora de muitos e muitas em tantos momentos diversos e que por vezes se coincidiam. Era democrática, quase bíblica, dividia-se em quantos fossem necessários os gritos de solidão e os soluços de desespero sem nunca perder aquele mesmo vigor de proteção, do anonimato, da solidariedade julgadora das pessoas que por ela passavam. Principalmente, do respeito ao isolamento das lágrimas, dos olhares desviados, das calçadas atravessadas. A senhora dos olhos vermelhos, era ela! Para onde iam todos os marmanjos expulsos de casa, as meninas desiludidas e os rapazes em ilusão, do frenesi apaixonado da adolescência à complacente aceitação da morte. Senhora dos tímidos, dos quietos, mas que recebia de braços abertos os escandalosos e incautos. A rua, lar da boemia, das bebedeiras, dos andares melancólicos e dos lamentos, os sofridos assovios que tiram o ar não do pulmão, mas do coração pesado e artrítico de quem sofre.




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