sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Eduardo

- E como você se sente?
- Como eu me sinto? Como assim, "como eu me sinto"? Que porra de pergunta é essa? Como eu me sinto em relação a quê?
- Calma, Eduardo, foi só uma pergunta. Agora por favor responda: como você se sente em relação a si mesmo?
Um momento de silêncio marcou a efervescência emocional na cabeça dele. O silêncio, quebrado apenas pelas fortes e duras batidas no seu coração, como algum brutamonte arrombando uma porta de compensado. E então parou.
- Eu me sinto como uma casa quebrada. - disse, com o semblante calmo - Uma daquelas casas onde passamos nossa infância, sabe? A mãe cozinhando, o pai se arrumando pro trabalho, essa merda toda. Mas nem a mãe nem o pai estão lá. Eles estão mortos. E a casa está vazia, abandonada. E no lugar das teias de aranha... nem as aranhas quiseram saber da porra da casa. No lugar das teias estão os cacos. A casa está em cacos. É uma casa destruída, sem conserto, toda a infância que se passou lá e toda a vida que a rondava... toda a merda que se passou, mas também os momentos de felicidade, aqueles raros momentos de felicidade... aquele brinquedo que você ganhou de natal, aquela dança que seus pais dançaram, essa merda toda já era. A-ca-bou. Fim. E a casa, quebrada. É assim que me sinto, doutor, como uma casa quebrada, destruída. Me sinto sem rumo, sem razão de ser.
- E isso depois que a Bia morreu?
- É óbvio, porra, que foi depois que a Bia morreu, caralho. Porquê porra seria?
- Não foi culpa sua, Edu...
- FODA-SE!

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