segunda-feira, 6 de maio de 2013

Sobre o que não é arte


A questão mesma de problematizar a definição de arte não é afirmar que esta (a definição) não existe. Pelo contrário, trata-se de considerá-la algo extremamente complicado e abstrato, para não dizer subjetivo, o que sim, dificulta e muito o processo de estabelecê-la. Existem tantas definições de arte quanto quadros fora de museus e não digo que há uma que seja definitiva, por mais incoerente que possa parecer. Também não digo que haja alguma errada nem que todas estão certas. De fato, não digo nada, até porque não cabe a mim (um oh tão simplório e medíocre apreciador) fazê-lo. Não, o que eu digo é que uma definição existe, mesmo que ela seja plural, e que arte, com a maior certeza do mundo, não é "tudo". Veremos o porquê.

Pra começar, entendemos arte como uma coisa, uma vez que a denominamos e, mais importante, a percebemos. Se arte é uma coisa, ela mais que é, ela não é o que ela não é, ou seja ela não não é. Taí uma definição pra você: arte é tudo aquilo que não não é arte. Vaga, né? Ora, o que você esperava? Enfim... prosseguindo... se entendemos arte como uma coisa, ela se define por si mesma. Por mais que coisas transbordem (mas não vou por aí, não se preocupem... mas pros curiosos: uma coisa que transborda é quando ela passa de seus limites físicos e altera a realidade ao seu redor. De forma simplificada é isso), elas se limitam conceitualmente, se não de forma física, autônoma, ao menos em nossas apreensões conscientes (de consciência... do que é... cada coisa). Isto permite que diferenciemos uma banana de uma maçã ou de uma cebola. Certamente nem tudo é fruta e entendemos isso, nem tudo é doce também, e nem tudo é preto. O que nos permite diferenciar e conceituar cada coisa é nossa capacidade cognitiva. Percebemos a realidade de tal maneira que destacamos dela as coisas e as classificamos, de acordo com a percepção e/ou o conhecimento por nós adquirido. Digo "e/ou" porque não classificamos formas mais complexas sem estudo ou conhecimento, mas não precisamos de nada além da experiência para saber se algo é doce ou não, por exemplo. O próprio conhecimento pode ser uma forma classificatória autônoma, eu creio, uma vez que ele próprio se ramifica constantemente, mesmo sendo completamente abstrato. A matemática não tem diversas áreas? Ok, talvez o exemplo não proceda (não sei nada de matemática), mas vocês entenderam a ideia... Bom... chamamos algo de arte, então, porque, simplesmente, percebemos, por experiência ou conhecimento ou ambos, algo a que chamamos de arte. Agora, isso (o que chamamos de arte) pode variar (e varia), mas não importa, vamos apenas guardar que existe.

"Arte é tudo!"

Arte não pode ser tudo pelo simples motivo de ser algo percebido. Conceitos absolutos não são percebidos porque não há nada para contrastá-los. Assim, sabemos que algo é vermelho porque existem outras cores, que algo é doce porque existe o não-doce... Mesmo quando pensamos em termos mais... macroscópicos... a vida por exemplo, alguém poderia dizer que ela é tudo e mesmo assim é conceituada. Pois bem, só conseguimos pensar a vida pois há ausência de vida, isto é, a morte. A não vida é o que dá vida à vida. Ironias podem ser tão belas, não acha, leitor? (Sim, eu sei que mudo do singular pro plural o tempo todo...)

Quer dizer, percebemos que algo é xis porque existe tudo aquilo que não é xis, sabemos, então que o que é xis é tudo aquilo que não não é xis. Logo, se arte é uma coisa, ela não pode ser tudo, pois isso significaria que ela não é nada e, portanto, ou não seria experimentada ou seria experimentada com uma constância tão contínua que sua perceptibilidade seria nula. Arte é, então alguma coisa.

"Mas a arte sendo subjetiva e tal e tal pode ser uma penca de coisas pra cada um e, então, virtualmente ser tudo!"

Sim e não... a arte pode, em seu somatório geral, ser tudo, assim como tudo pode ser fruta, se alguém assim classificar. Isso vale pra qualquer conceito. Não é, no entanto, algo válido, porque além da experiência, a noção de arte é construída através do conhecimento e existem certos parâmetros para se dizer o que é arte e o que não é. Parâmetros estes que vêm sendo desafiados, quebrados, modificados, ampliados e por vezes reduzidos constantemente ao longo de, talvez, sempre, mas que existem. E que servem de modelo para a definição pessoal e subjetiva de cada um. Por exemplo, dificilmente se ouvirá dizer que um quadro de Rafael não é uma obra de arte, por exemplo. Ou uma música de Beethoven. Estou apelando aos clássicos porque eles tem mais apelo... de um modo geral, o que é erudito, é mais aceito dentro dos tais parâmetros... pelo menos é o que me parece. Enfim... Este parâmetros, que muitos consideram como elementos castradores e limitantes, para mim, são o que impedem as pessoas de botarem um escritor meia-boca de blogs no mesmo nível de um Rimbaud ou um Machado (por favor, não vamos nem começar a falar sobre poesia, que, na minha opinião é algo além da arte). Acho-os valiosíssimos (embora preze pelo seu dinamismo - que é inerente a tudo aquilo que é humano). E, claro, algumas pessoas dirão que são (ainda nos parâmetros) uma construção e bla... Pois digo que a própria arte e a própria percepção artística também são, de certa forma, construções. Posto que uma incrível obra que mobilize multidões pode não dizer nada para outra pessoa ou outra cultura. Ainda assim, cada um tem seu conjunto de parâmetros e, mais importante, nunca para uma pessoa ou uma nação, arte será "tudo". Porque quando isso acontecer, significará que ela está morta.



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