terça-feira, 16 de outubro de 2012

Companheiros de Abismo e divagações

I


E do homem que morre e deixa a si... da mulher que faz sexo porque precisa (porque precisa...!)... do homem que chora o próprio lamento... da mulher que seduz a própria desgraça... do homem que corrói o próprio couro, com pregos de metal... da mulher que se esconde atrás de si mesma, alma tímida em escudo de carne... do homem que morre... da mulher que deixa de viver... de duas almas desgraçadas... de dois destinos destroçados... do céu estrelado... da lua amarela... da luz que os ilumina... da inevitabilidade de um abismo... um mesmo abismo... do assobio do vento... dos cabelos esvoaçantes... da ardência dos olhos... do duro... do sangue... do olhar... o mesmo olhar... do amparo cego... do mesmo olhar... do arrefecimento...


II


Se é no abismo que nos encontramos com nossa solidariedade, se é no abismo onde conseguimos, após tanto tempo na escuridão, apreciar com tanto furor o feixe de luz, o verde, vermelho, azul, após anos de cinza... Se é no abismo que, sozinhos, aprendemos a ser humanos...

É realmente?

Ser humano é ser sujeito antes de ser pessoa? É ser eu antes de ser nós? É sofrer antes de gozar? É não ter antes de ganhar?

É morrer antes de viver?


Ser... ou não ser... se esta dúvida é, para mim que nunca terminou Hamlet, quanto à própria finitude da vida, seria ela uma constatação ou um dilema? Sou ou não sou? ou Serei ou não serei? É uma dúvida perante a vida em si ou perante a morte? É a hesitação da própria existência ou a vontade do suicídio? Preciso ler Shakespeare...


III


Me pertence minha vida, afinal? Quem ou quê deu-me-a? Certamente não veio por espontânea vontade... devo crer que minha complexa existência se resume a um conjunto de reações químicas? De sistemas de causa e efeito biológicos? E qual seria o problema? Não creio que isto tiraria a beleza da vida em si... Tiraria? Se a vida é minha, o que é o Universo? O livre-arbítrio não existe, estamos sob suas leis... Não serei nunca mais poderoso que a gravidade, mais poderoso que o átomo ou que eu mesmo... Vivemos sob constante contradição. Se não somos parte do Universo, somos parte do quê? Se não somos Natureza, quê somos?! Haveria uma esfera de poder e possibilidades afora da Natureza que nos comportaria? Não, claro que não, ainda estamos sujeitos a todas as regras que definem o que achamos que nos é externo. Somos, então, externos a nós mesmos? Ou seríamos nós internos ao que nos é externo, ou seja, parte de um todo que não consideramos por sermos arrogantes e prepotentes demais? Aposto todas as minhas fichas nesta última. All-in! Mas ainda não compreendo. O que nos diferencia - certamente existe algo - do "resto"? Cultura, isto é! Não temos onças pintadas se comportando de maneiras diferentes, temos? Onças pintadas serão onças pintadas em qualquer lugar do mundo. Seres humanos, no entanto, diferem tanto quanto há possibilidades. Diversidade cultural. Se, naturalmente, somos homogêneos, entre nós somos completamente distintos... Estas distinções serão obra de um conjunto de relações químicas? Duvido... Teríamos que admitir que tal etnia seria quimicamente diferente de outra para tal... Sabemos que não é verdade. Seriam as condições geográficas? Talvez, mas não é difícil haver duas etnias completamente diferentes no mesmo lugar geográfico, enquanto uma outra mais longe pode ser mais parecida com uma das duas antes mencionadas. O que então? O que controla o mecanismo de reconhecimento de padrões que temos em nosso cérebro? O que cria deuses, mitos, ritos, ferramentas, comidas, elaborações? Será realmente apenas o cérebro? Mas o que o garante a individualidade? O que confere a cada ser uma personalidade? Serão apenas os genes? São perguntas que, até agora, as respostas dadas não me satisfizeram... Bom... Se alguém souber, pode me dizer...











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