domingo, 10 de outubro de 2010

Título

Há um tempo atrás eu escrevi um texto chamado "Identidade", que falava sobre a inconstância do ser humano, suas fases, suas transformações, sua instabilidade, sua adaptação... Falei que eu mesmo passei por um (um? creio que foram vários) desses processos de mudança de pensamento, que foi se aprofundando com o tempo. É um processo doloroso, mas valioso, aprendi a me aceitar mais como sou e a gostar mais de mim. Aprendi a respeitar mais a opinião alheia, não me prendendo à infantil pretensão de ser o dono da verdade. Claro que todos temos deslizes... mas a vida acaba corrigindo eles para mim, aprendo com eles, coisa que não faria a um tempo atrás. Mas isso foi o meu processo. E foi natural, automático, não me forcei a passar por isso, pelo contrário, fui totalmente indiferente a ele. Sabia que algo estava acontecendo, sabia que meu cérebro estava a mil, sabia que pensamentos totalmente diferentes dos meus estavam em minha cabeça, só não sabia porque. E ainda não sei. Sei sim que algo aconteceu, e disso eu tenho certeza.

Então, eu mudei, mas mudei sozinho. Minha pergunta que fica para vocês é a seguinte:

É válido mudar quem você é, como age, do que gosta, etc... para ser aceito em determinado grupo? Por alguém que você ama? Para se destacar dos demais? É válido você ter relações com pessoas sem ser você? Enganar a si mesmo por tanto tempo que você acabe acreditando que você é a sua fantasia? Mas quando você deita na sua cama, a noite, seu verdadeiro eu não corre para, mesmo que timidamente, lembrar-lhe de quem você é?

O processo de mudança é um processo natural, todos mudamos, não importa realmente se para o que esperam de nós ou não.

O pai do garoto expulsou-o de casa, ele queria que o garoto fosse médico, mas ele entrou na faculdade de belas artes. Anos depois o pai o encontrou vendendo suas pinturas em uma praça, no centro da cidade. Seus olhos se encontraram, os do pai, emoldurados por roupas caras e um sapatos italianos, tinha a expressão cansada, triste, e receosa, e os do garoto de cabelo desgrenhado e roupas amassadas, estavam vivos, sabia o que estava fazendo, sabia o que queria e porque estava ali. O pai não, e o garoto também sabia disto. O pai reparou nas obras, eram lindas, entendeu tanta coisa com as cores misturadas, os relevos artísticos... entendeu tanto do que há alguns anos não entendia. Dos sentimentos do filho... e entendeu tanto de si mesmo. Soltou a pasta de couro de jacaré e olhou atentamente para o garoto, deveria arriscar? Deveria pedir perdão? Deveria começar de novo?

É algo assim. O garoto cresceu, o pai não. O pai tem a chance de crescer agora, de encarar o novo, de mudar o pensamento, de se transformar, realmente. É assim... O que o pai fará só ele sabe, mas podemos traçar nossos caminhos, quando escolhas nos são apresentadas. E são, o tempo todo. Não há nada de errado em mudar um comportamento por alguém que gostamos, mas mudar todo o nosso jeito de ser? Essa pessoa então, gosta de nós ou da fantasia que criamos?  Será que esta relação vai durar? Não importa mudar tudo se o que somos não mudou. Isso é só uma forma de mutilação emocional... de desrespeito consigo mesmo, de não gostar de quem você é. Aprecie-se, e outros o apreciarão, como você é, não como eles querem que você seja. Não tenha medo de ser quem você é.

Uma pergunta agora, pra quem quiser responder, claro... Você já se fez ser alguém completamente diferente? Porque e como se sentiu com isso?

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