quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Tentativa de Suicídio

Assobiava Raul Seixas enquanto saía da barca, já bem atrasado para a faculdade. Na multidão de gente, uma se destacava... era uma mulher, por volta dos seus quarenta e tantos anos, branca, cabelos castanhos curtos, meio gorda... Usava um vestido florido que terminava no joelho, permitindo ver suas pernas não depiladas. A mulher se encontrava na grade que separava a plataforma de embarque do mar sujo da Baía de Guanabara, com uma perna para dentro da plataforma e outra para fora. "Ela vai pular", pensei. E pulou... a mulher terminou de escalar a grade com muita calma, com movimentos cuidadosos, se posicionou na beira da plataforma e se jogou no mar, sem retornar.
- Ela caiu! - alguém berrou.
- Ela se jogou... - eu sussurrei.
- Ela se jogou! - berraram.
- Ah bem que ela tinha deixado o rádio! - uma mulher disse.
- Alguém ajuda ela! Alguém chama ajuda!
- Deixa ela lá! Ela que se jogou!
- Maluca! - disse alguém entre risos.
A silhueta da mulher apareceu novamente, mas seu rosto não saiu da água. Um homem se jogou para ajudá-la, um segurança pedia ajuda pelo rádio. Logo uma multidão se formava para ver o resgate. Alguém me empurrou, eu andei e vi ela sendo tirada de lá. Fui embora... não acho que tenha dado tempo dela se afogar, mas não fiquei para saber... Estava confuso e me irritava as pessoas vendo a situação com graça... Suponho que todos tenham o direito de se expressar como quiserem, mas me irritava.

O que se passava pela minha cabeça, a partir do momento em que vi aquela mulher era: "Eu devo ajudá-la..." Mas eu nem estava disposto a ajudá-la e nem sequer queria ajudá-la... Para ser sincero, não sabia nem se deveria ajudá-la... O episódio foi um grande confronto para mim... Aquela mulher, quer sofresse de depressão ou alguma doença psicológica/psiquiátrica, quer não, aquela mulher esfregou na minha cara que talvez a vida não valha a pena... Fiquei pensando no que levaria uma pessoa a despir-se de sua vida, a coisa que deveria ser mais cara para ela, a única coisa que ela de fato tem e é dela... Não consigo sequer imaginar a resposta... ainda assim, ela o fez, ela se jogou. Um confronto... ela parecia tão calma, tão pensado aquele ato... Mais tarde uma garota falou "ela se jogou para chamar atenção". Tenho certeza que não foi isso, não pode ter sido... ela não subiu... talvez tenha sido um ataque ou algo assim... eu não sei como funcionam psicopatologias ou mesmo neuropatologias... tanto faz... a questão que ficou é: Será que a vida realmente vale a pena?

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