terça-feira, 24 de maio de 2011

As Máscaras que Revelam

"Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim"

- Filosofia, Noel Rosa

  - Uma coisa que eu queria destacar do filme é que o nariz do palhaço, como foi dito, é o olhar do palhaço para o mundo. O nariz, a máscara, que pode causar estranhamento, é também uma forma de libertação para o palhaço, é quando a pessoa por trás do nariz pode se livrar dos medos e dos julgamentos e falar o que pensa, fazer o que quer fazer. O nariz é a chave para a subversão do palhaço, para sua ousadia, o nariz é sua máscara. No entanto, a máscara não é uma ferramenta exclusiva do bobo da corte, do arlequim... Nós, comuns civis, também a possuímos. Nosso nariz de palhaço, no entanto, é o que tentamos parecer quando nos travestimos de estereótipos, estereótipo do inteligente, do rebelde, do triste e, principalmente do dito bem sucedido, o  rico. Ao contrário do nariz do palhaço, que o liberta, nosso nariz nos enclausura dentro de uma imagem, que só pode ser frágil, só pode ser falsa. -

Ontem fui a um evento onde se encontrava o ilustríssimo antropólogo Roberto DaMatta. Comentando sobre o filme documentário "Doutores da Alegria", o professor DaMatta destacou alguns pontos interessantíssimos, um deles eu tentei sintetizar da melhor forma que pude (baseando-me na minha própria interpretação) no parágrafo acima, claro que, adicionando e subtraindo uma coisa ou outra...

Há algo de interessantíssimo no que o professor falou dos "narizes de palhaço", quando visto de um ponto de vista mais generalizado. Historicamente, desde os tempos feudais até nosso muy amado capitalismo neoliberal, vemos uma sociedade estratificada, hierarquizada, pnde quem está na base da pirâmide de poder quer se tornar quem está no topo. Víamos isso com as compras de títulos de nobreza, perucas e maquiagens (símbolos de poder na sociedade do antigo regime), etc... Hoje, o processo se repete por meio de viagens para a Europa, roupas de marca e perfumes caríssimos... esses são seus "narizes de palhaço". A vontade de ser rico é tanta que alguns são capazes de criar dívidas imensas só para manter seus narizes no lugar. Vão "fingindo que são ricas, para ninguém zombar delas", como disse Noel Rosa em sua canção.

Esta vontade de ser rico, seria, por algum acaso, vergonha de ser pobre? Ora, certamente que sim! E é compreensível! Afinal, quem não gostaria de poder ir àqueles lugares maravilhosos que aparecem na televisão ou de comprar aquelas roupas bonitas e caras e aqueles adornos dourados, brilhantes. Quem não gostaria de ter status e ser respeitado? Esquecem as pessoas, no entanto, que quem faz o casaco de pele que o rico compra por mil e quinhentos reais na sua loja favorita do Shopping Leblon é o trabalhador, que ganha um salário mínimo para fazer algumas dezenas de unidades. Esquecem que é o classe baixa e média quem sustenta o classe alta. Vêem a si mesmo com repulsa e vergonha e admiram quem vive às suas custas.

Vestimos narizes de palhaços para nos tornarmos quem sustentamos e quem nos explora. Vestimos narizes de palhaços, como Noel apontou, para que não zombem da gente. Não zombam do palhaço, zombam do ser humano!
Se os narizes dos Doutores da Alegria conseguem nos ensinar como podemos nos tornar mais humanos, mais livres, mais subversivos, mais contestadores, se eles os permitiram enxergar além do que os foi apresentado... aprendemos tudo errado. Nossas máscaras não escondem somente nossa identidade, elas se tornam quem somos, quem queremos ser para os outros e até para nós mesmos... Nossas máscaras não nos revelam, elas nos escondem, elas nos tapam a identidade e nos dão um caráter numérico. Somos mais alguns no meio de muitos... perdemos a singularidade que cada ser humano tem e pior! Por vontade própria! Escolhemos viver nas sombras de nossos medos, representados por nossas máscaras.

Quem é o palhaço agora?

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