terça-feira, 7 de setembro de 2010

Lar Doce Lar



Não há lugar como o lar.



                         Quero voltar para casa.


Que coisa estranha é esse apego a um lugar, não? O que chamamos de casa, lar, ou qualquer outro nome que você possa eventualmente chamar... Porque, para nós, ela deixa de ser uma simples moradia? Porque passamos a nos identificar nela? Torná-la parte de nós mesmos e nós parte dela? Porque nos sentimos seguros dentro dela, mesmo se não estivermos? Porque a necessidade de clamá-la para si? Lar pode ser um apartamento, uma casa ou mesmo um país. Sabemos que pertencemos àquele lugar e que não poderíamos ser de nenhum outro. O que leva um brasileiro morando na Europa, mesmo ganhando muito mais e vivendo melhor lá, voltar para o Brasil? Ou um judeu, cuja família já vive gerações em um país, querer voltar para Israel? Vemos nossas origens em nossa casa, nos vemos nas nossas origens. Quem nunca quis saber quem é de fato? Saber de onde veio? Se conhecer? Vemos em casa o mais próximo de nós que podemos encontrar. Às vezes tentamos fugir... Mas o apego a casa é grande. E porque o sonho da casa própria? Não seria fugir das origens? Fugir da sua história? Não, creio que não, seria o inevitável desejo de construir você mesmo uma história sua. E deixá-la para seus filhos. A casa não é um simples abrigo, é um santuário, onde você pode mesmo nas piores situações sentar-se e descansar, descarregar o pesado fardo da rua, do dia-a-dia, do trabalho. Em casa, você pode chorar, xingar, ser você mesmo sem ter ninguém para te julgar. Vemo-nos em casa, porque nossa casa, nosso lar, é onde abrigamos nossos mais profundos segredos, sentimentos, ambições... Vemo-nos em nossa casa, porque ela é moldada de acordo com nossa personalidade.


E quem não tem casa? Quem não tem lar? Quem está à procura de um lugar que pode chamar de seu? E quem foi tirado de casa a força? A sua propriedade tirada desta pessoa sem aviso prévio? Ou mesmo com aviso prévio? Esta pessoa deve lutar pelo que é seu? Esta pessoa deve retaliar? Esta pessoa deve agir passivamente e viver sem lar? Aquele que nasceu sem terras deve morrer da mesma forma? Deve tentar conquistar algum lar, mas como? Se nem casa eles tem, vão ter como estudar? Arrumar um emprego? Comprar enfim a tão sonhada propriedade?


E aquele que tem mais que abundância de terras, não por mérito próprio, não foi ele quem conseguiu adquirir tudo aquilo, foram os avós dos avós dos avós dele, aqueles que ganharam estes feudos para a colonização ou por que eram da nobreza. Mas os anos passam e a monarquia faliu. Porque as mesmas pessoas são donas dos mesmos pedaços de terra? Terra esta, não se engane, não totalmente aproveitada. Mas abrir mão de um pedaço para dar a quem não tem? Pecado! Absurdo! Inimaginável! Nem mencione isto, seu vermelho maldito! Não sou vermelho, branco, preto, azul, verde, ou cor alguma. Sou justo. Não fui eu nem vermelho algum quem escreveu os direitos do homem, não fui eu que coloquei lá o direito a propriedade privada, não foi, tampouco, um vermelho que fez a Revolução Francesa.


Também não fui eu quem tirou as terras de seu ancestral a milhares de anos, mas fui eu quem vocês culparam. E fui eu quem perdeu a casa. Eu e mais centenas de milhares. Sou eu e mais centenas de milhares que esperam um pedaço de terra, não utilizada mesmo, que possa chamar de minha, de lar. Sou eu e centenas de milhares que somos postos de lado e vemos vocês desfilarem com o orgulho e mesquinhez que só vocês têm. Somos nós que esperamos sentados, que morremos esperando, mas que ainda assim temos esperanças de ver nossas casas, nossos lares. Porque vocês podem ter um lar e nós não? Porque vocês podem ter um santuário e nós não? Vocês têm seus direitos, porque nós não temos? Não somos homens também? Não somos humanos? Somos inferiores a vocês, por acaso?Queremos construir também nossa história, queremos que nossos filhos a continuem. Queremos chegar em casa, depois de um dia de trabalho, e descansar. Queremos nós, homens sem origem, poder dizer Lar Doce Lar.

Um comentário:

  1. doce lar para todos;quem sabe um dia as coisas mudam.....mais uma vez parabéns.Leilah.

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